São Paulo, domingo, 13 de outubro de 1996
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Bipartidarismo segue inabalado nos EUA

CARLOS EDUARDO LINS DA SILVA
DE WASHINGTON

Nos últimos 150 anos, a política dos EUA tem sido dominada por dois partidos: o Democrata e o Republicano.
Embora pesquisas de opinião pública mostrem que agora um terço dos norte-americanos se digam independentes dos grandes partidos, e 43% afirmem que gostariam de poder eleger um presidente que não fosse nem democrata nem republicano, não será neste século que a hegemonia bipartidária será quebrada nos EUA.
Em 1992, Ross Perot, sem partido, conseguiu 19% dos votos contra o republicano George Bush e o democrata Bill Clinton.
Antes do empresário, só um candidato de fora dos grandes partidos tivera mais sucesso: Theodore Roosevelt, pelo Partido Progressista, que em 1912 obteve 27,4% dos votos e terminou em segundo, à frente do republicano William Taft (23,2%) e atrás do democrata Woodrow Wilson (41,8%).
No Congresso, só um dos 535 parlamentares não é democrata nem republicano: o deputado Bernard Sanders, representante do Estado de Vermont (Costa Leste), que se define como socialista, mas não é filiado a qualquer partido.
O próprio sistema político dos EUA dificulta muito a promoção de outros partidos além dos dois grandes. As eleições parlamentares são distritais, e o presidente da República é escolhido por um Colégio Eleitoral, em que o vencedor em um Estado recebe todos os votos eleitorais daquele Estado.
Perot, por exemplo, embora tenha conseguido 19% dos votos populares, não ganhou nem um voto no Colégio Eleitoral por não ter terminado em primeiro lugar em nenhum dos 50 Estados (ele ficou em segundo, 316 votos à frente de Bush, em Maine, Costa Leste).
Roosevelt, que já havia sido presidente (1901-1908), teve 4,1 milhões de votos populares contra 6,2 milhões de Wilson em 1912, e perdeu no Colégio Eleitoral (435 a 88) por só ter vencido em 5 dos então 48 Estados do país.
Mesmo assim, nunca houve falta de candidatos à Presidência além dos democratas e republicanos. Este ano, são 217. A maioria absoluta só vai aparecer nas cédulas eleitorais em alguns Estados por não terem cumprido os requisitos exigidos para esse privilégio (que variam de Estado para Estado).
O Partido da Reforma, de Ross Perot, e o Partido Libertário, que completa 25 anos de vida, foram os únicos que venceram os obstáculos. Muitos pretendem mostrar que são viáveis para o futuro.
Entre eles, o Partido Verde, o Partido dos Contribuintes e o Partido da Lei Natural. Outros, como o Partido Socialista, mantêm uma longa tradição de presença política minoritária na vida do país.
Candidatos independentes ou de pequenos partidos tiveram importante papel na formulação da agenda política nacional. Antes da Guerra Civil (1861-1865), foram eles que introduziram o tema da abolição da escravatura.
Em 1968, George Wallace, do Partido Americano Independente, intensificou o debate sobre as relações raciais no país, com seu discurso racista. Perot, há quatro anos, transformou o déficit público federal em assunto prioritário nas discussões políticas.
Como Ralph Nader, este ano, grandes nomes da sociedade civil norte-americana usaram a possibilidade de se candidatar à Presidência como instrumento para expandir o alcance de suas idéias.
O militante do movimento negro Eldridge Cleaver (1968), o pediatra Benjamin Spock (1972) e o ambientalista Barry Commoner (1980) foram alguns deles.
Este ano, não se espera que candidatos dos partidos menores venham a ter grande impacto nem sobre os votos nem sobre a agenda nacional. Mas, de qualquer modo, eles estão em campanha.

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