São Paulo, domingo, 13 de outubro de 1996
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Estampa do rock

TOMAZ AUTRAN

Dos "peões" Raimundos ao "camelô" Chico Science, as bandas fazem sua moda
Quando o assunto é rock'n roll, muito se fala das novas tendências musicais, "revivals" e a sensação do momento. Mas, o aspecto visual das bandas, tão influente para a juventude do mundo inteiro, acaba relegado ao segundo plano. Apesar disso, existe um consenso entre músicos (pelo menos os entrevistados pela Revista): a imagem da banda é tão importante quanto o som.
"Um show é metade visual, metade som", definiu Syoung, guitarrista da banda brasiliense PxUxS. Segundo Paulo Miklos, do Titãs, as "fusões sonoro-visuais são uma demonstração de atitude, criam um ambiente e uma empatia com os fãs. O visual complementa o som, é outra via de expressão."
Vários adjetivos foram usados pelos artistas para definir seus estilos visuais. Do "descombinado elegante" de Jorge Israel (Kid Abelha) ao "anárquico" de Paulo Miklos, passando pelo "peão" dos Raimundos, o "camelô" de Chico Science e o "largado" Max Cavalera (Sepultura), a indumentária musical expressa o jeito de ser de cada banda.
Por serem tantos e tão variados os estilos musicais, existe uma saudável diversidade na maneira dos conjuntos se vestirem. Loucuras e excentricidades são bem-vindas e muitas vezes copiadas pela alta costura.
Um exemplo é o grunge, que causou tamanho impacto no início dos anos 90 que a camisa de flanela quadriculada se tornou peça obrigatória até nos desfiles de Paris, Milão e Nova York.
A palavra de ordem para as bandas, quando se trata de roupas é autenticidade. "Eu visto minha atitude", disse Max Cavalera, vocalista e guitarrista do Sepultura. "É minha maneira de provocar a sociedade. Como uso as mesmas roupas na rua e no palco, para mim o único drama é quando tenho de ir ao médico ou no colégio dos meus filhos", explicou o cabeludo.
"Quando o visual difere muito do som, a banda se prejudica. A falta de autenticidade fica muito palpável", disparou Canisso, baixista dos Raimundos.
Chico Science foi enfático: "Procuro usar coisas que têm a ver comigo, com as quais me identifico. O que vale é a atitude, roupas com suas características, a sua cara. As pessoas não sabem se valorizar, vão para as ruas usando o vestidinho que viram na novela. Isso é uma besteira, não tem nada a ver."
É claro que cada banda tem suas preferências, um estilo e características próprias. "Uso muito preto e stretch, mas também uso coisas loucas. Já fui cabeludo, careca, sou uma espécie de campo de provas visual. Assim como roupas mais descontraídas, visto um terno na boa, acho que cada traje tem seu barato", disse o titânico Paulo Miklos.
Já os Raimundos são adeptos do "street style", roupas folgadas e resistentes preferidas por skatistas e "modernos". O vocalista Rodolfo apregoa o uso de indumentária "safada", peças velhas e surradas. "Roupa é para ser gasta, não é para ficar tirando onda, numa de ostentação, mostrando a marca", explicou o rapaz.
Os estilistas preferidos pelos roqueiros tendem a ser de vanguarda, com criações ousadas, como Alexandre Herchcovitch, Jean-Paul Gaultier e Vivienne Westwood. Um nome improvável, escolhido por Canisso, é Ocimar Versolato porque "é brasileiro e está se dando bem lá fora."
As marcas preferidas são a Vision, que patrocina várias bandas, Forum, Será o Benedito? e Cavalera, uma linha lançada por Igor Cavalera, irmão de Max e baterista do Sepultura.
Os brechós do Bom Retiro e Largo de Pinheiros também são frequentados pela maior parte da tribo musical. Outra fonte de vestimentas são as viagens e turnês ao exterior, já que as roupas geralmente são mais baratas e de maior qualidade.
Alguns dos pontos visitados com frequência são o Saint Marks Place, em Nova York, Les Halles, em Paris, e High Kensington e Portobello Road, em Londres.
Dizendo-se inspirada por figuras tão variadas quanto os Beatles, Jimi Hendrix, Kiss, skatistas, a Jovem Guarda e até John Wayne, a galera do rock não se faz de rogada e repete o discurso inaugurado há 30 anos pelos primeiros roqueiros: "Vestimos o que gostamos, sem modismos ou hype".
"As roupas que usamos não são só uma questão de estilo, querem dizer alguma coisa. Elas mostram a atitude de quem as usa, não é sobre estar chique ou na moda", finalizou Paulo Miklos.

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