São Paulo, domingo, 13 de outubro de 1996
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Episódios envolvendo a TV maculam eleição

FERNANDO DE BARROS E SILVA
ESPECIAL PARA A FOLHA

Dois episódios envolvendo a Justiça Eleitoral e a TV, ocorridos respectivamente na véspera e no dia do primeiro turno da eleição, merecem comentário, sobretudo se vistos em conjunto e não isoladamente, como fez de modo geral a imprensa.
O primeiro deles foi o direito de resposta que Celso Pitta, do PPB, obteve na quarta-feira junto ao TSE (Tribunal Superior Eleitoral) para colocar no ar, em cadeia nacional, oito minutos de propaganda política quando nenhum outro candidato podia mais usar a TV para correr atrás de votos.
No momento em que que o direito de resposta do PPB foi ao ar, no meio do "Jornal Nacional", o Ibope registrava 55 pontos de audiência, índice jamais alcançado pelo horário político em toda a campanha. Esse foi o primeiro fato.
O segundo foi a suspensão da programação da Rede Bandeirantes em São Paulo no dia da eleição. Acatando determinação do TRE, a emissora ficou fora do ar entre 17h35 e 20h35 do dia 3.
Alegou o órgão da Justiça Eleitoral que a Bandeirantes estava desrespeitando a legislação porque exibia ao vivo de seus estúdios personalidades, analistas e cientistas políticos comentando o pleito ainda em andamento, o que poderia induzir o eleitor a votar neste ou naquele candidato.
Acaso ou não, momentos antes de ter sua programação suspensa, a Bandeirantes tinha entre seus convidados um cartunista que, mesmo fazendo charges de vários candidatos, não parecia ser muito simpático ao malufismo. Ao vivo, ele rabiscou três ou quatro charges exibindo Pitta ora como palhaço, ora como ventríloquo sendo manipulado pelas mãos de Maluf etc.
A emissora passou dos limites? Talvez, embora a programação, vista em conjunto, não tivesse o menor cheiro de propaganda política. Era o caso de interditá-la? Certamente não.
O que concluir disso tudo? Que a interdição foi simplesmente arbitrária e o direito de resposta do PPB foi escandaloso. E mais: ao que parece, ambas as decisões favoreceram de fato a candidatura de Celso Pitta, que acabou recebendo mais votos do que previam todas as pesquisas realizadas até a véspera. Coincidência?
Cada um que tire dos episódios as conclusões que achar mais plausíveis ou convenientes. Mas há razões de sobra para se imaginar que a lisura da eleição, tão propagandeada pelo TSE, no caso de São Paulo ficou mesmo restrita ao sucesso das urnas eletrônicas.

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