São Paulo, segunda-feira, 14 de outubro de 1996
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Analistas recomendam cautela com a Vale

MILTON GAMEZ
DA REPORTAGEM LOCAL

O governo federal finalmente publicou, na última sexta-feira, o edital que estabelece o modelo de privatização da maior mineradora de ferro do mundo, a Companhia Vale do Rio Doce.
Em fevereiro de 1997, estima-se que a venda do bloco de controle da empresa (45% das ações com direito a voto) poderá movimentar cerca de R$ 3 bilhões, no maior dos leilões de privatização já feitos no Brasil.
Além desse, serão feitos mais dois leilões. Um deles será direcionado aos acionistas minoritários do país e do exterior e o outro para os funcionários.
A princípio, a privatização da Vale emana maiores lucros para seus acionistas minoritários.
Raciocina-se que, se a empresa já é rentável nas mãos do governo -lucrou R$ 196 milhões no primeiro semestre, 64% a mais que em igual período de 1995.
Ela deve se tornar ainda mais rentável sob uma gestão privada, mais preocupada com resultados do que com questões de cunho socioeconômico.
Cautela
Essa tese pode até ser verdadeira, mas analistas de investimento ouvidos pela Folha acham que ainda é cedo demais para ir com muita sede ao pote de ouro da Vale do Rio Doce.
Maurício Reveco, analista da Salomon Brothers em Nova York, mantém por enquanto sua recomendação desde março passado: "hold" (manter posição).
Ele diz que os preços das ações da Vale estão justos, isto é, dentro das expectativas de mercado. Por isso, antes de apostar dinheiro neles deve-se aguardar os primeiros resultados da companhia neste segundo semestre.
Espera-se que os lucros sejam superiores aos do primeiro, o que daria novo fôlego aos papéis.
"Sem dúvida, a Vale do Rio Doce é uma companhia única na América Latina. É global, a maior do mundo em mineração de ferro e possui grandes reservas de ouro, cobre e outros minérios. Assim que saírem seus resultados deste semestre, estaremos prontos para reavaliar nossa recomendação", disse Reveco à Folha, na sexta-feira, por telefone.
Reveco estima que neste ano o faturamento global da Vale crescerá 17,65% para US$ 4,3 bilhões.
O lucro líquido (após impostos) deverá saltar 30%, de US$ 329 milhões para US$ 427 milhões.
Neutralidade
Outro analista, do Banco Icatu, também manteve posição neutra em relação ao papel.
O executivo, que prefere o anonimato, acha que a Vale será uma excelente pedida após a privatização.
Isso caso seus futuros controladores sejam mais agressivos e ampliem ainda mais o escopo de negócios da companhia -que reúne, atualmente, 14 empresas e 26 coligadas em nove estados brasileiros, atuando em outros setores como navegação, siderurgia, celulose e papel etc.
Até lá, o melhor é ficar no muro, disse.
Análise
Para o analista Rodrigo Marques, do Bozano, Simonsen, o edital de privatização mostrou que o cronograma de venda de estatais é realista e plausível.
Mas, como a privatização só estará garantida ao bater do martelo do leiloeiro, as ações da Vale poderão sofrer oscilações caso haja novos percalços políticos no roteiro, acrescenta o colega da Salomon Brothers.
Marques, em recomendação divulgada ao mercado no dia 3 de outubro, aconselhou a venda das ações preferenciais (sem direito a voto) da Vale.

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