São Paulo, segunda-feira, 14 de outubro de 1996
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Produção de chá cai pela metade

Setor é o 2º mais importante

VALMIR DENARDIN
DA AGÊNCIA FOLHA, EM REGISTRO (SP)

O Vale do Ribeira, uma das regiões mais pobres e isoladas do Estado de São Paulo, assiste à derrocada de sua segunda mais importante atividade econômica: cultivo e industrialização do chá preto.
Nos últimos dois anos, quatro de suas sete indústrias de chá fecharam e a produção caiu 42,8% -de 7.000 toneladas em 1994, para uma estimativa de 4.000 toneladas até o final deste ano.
A área cultivada sofreu uma redução de 57,7%, no período. Diminuiu de 5.517 hectares plantados para 2.329 hectares.
O Vale do Ribeira é a única região produtora de chá preto no Brasil. Sua principal atividade econômica é o cultivo da banana.
A cultura de chá se concentra atualmente em dois municípios: Registro e Pariquera-Açu. Cerca de 95% da produção é exportada.
Roberto Okamoto, 40, presidente da Associação Paulista de Chá Preto, diz que a principal causa da crise no setor foi a equiparação do real ao dólar em julho de 94.
"Chegamos a vender a produção com até 20% de deságio, quando o dólar atingiu seu nível mais baixo: R$ 0,80", afirma Okamoto.
"Mas o custo dos insumos não parou de crescer. Desde a criação do Real o preço da tonelada de adubo subiu de R$ 120 para R$ 190."
A Casa de Agricultura de Registro (185 km a sudoeste de São Paulo) informa que nesta safra o custo de produção do chá é de R$ 1.364 por hectare, enquanto a renda obtida não ultrapassa R$ 840.
Dario Shigueru Yamamoto, 48, dono da indústria Sociedade Brasileira Beneficiadora de Chá, diz que o custo da exportação, a falta de melhoramento genético da variedade assâmica, cultivada na região e o excesso de chuva na última safra contribuíram para reduzir a competitividade do chá brasileiro. Sua empresa chegou a embalar 3.700 toneladas do produto entre 1984 e 1985 e foi desativada em maio do ano passado.
Produção
A atual produção brasileira representa 0,15% da produção mundial, que gira em torno de 2,5 milhões de toneladas anuais.
Há dez anos, a colheita anual de chá do Vale do Ribeira era de 11,2 mil toneladas, quase o triplo da atual.
Para o delegado regional agrícola, Luiz Antonio de Campos Penteado, 51, a queda na produtividade é causada por dois fatores: a redução da área plantada e a falta de investimento devido à descapitalização dos agricultores.
Penteado diz que muitos produtores já abandonaram a atividade e buscam outras alternativas econômicas. Desde a implantação do Real o número de produtores caiu de 788 para 260 (redução de 67%).
Na última quinta-feira, a Agência Folha percorreu a região e encontrou pelo menos uma dezena de plantações de chá abandonadas em meio ao mato.
A crise no setor provocou desemprego no campo e na cidade. Nos últimos dois anos, houve uma queda de 63,4% no número de empregos nas plantações de chá -de 1.993 para 728 vagas.
Na indústria, a redução foi de 58,5% -caiu de 637 postos de trabalho para 264.
Em Registro, principal cidade da região, a Associação Comercial e Industrial registra desde 1995 um aumento de 20% na inadimplência nas vendas a prazo, ao mesmo tempo em que verifica queda de 10% nas vendas.

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