São Paulo, segunda-feira, 14 de outubro de 1996
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

Manuelzão deixa sertão para dar palestras

XICO SÁ
DA REPORTAGEM LOCAL

O vaqueiro Manuelzão, 92, personagem de carne e osso de Guimarães Rosa, se rebelou da condição de criatura passiva. Agora é um showman do asfalto.
O homem não pára mais no sertão mineiro, onde mora. "É só me buscar e me pôr lá de volta", diz. "Agora que eu aprendi falar, eu passo um dia inteiro dizendo um bocado de coisas".
Manuelzão tem corrido o Brasil com palestras e depoimentos. Na noite da última sexta-feira, deixou sem fôlego, com a sua prosa caótica, uma platéia paulistana de 150 pessoas.
Foi um alumbramento só no auditório da Biblioteca Mário de Andrade (região central da cidade). Estudantes -e um punhado de gente com cara de mestrando em literatura- deliraram diante das barbas brancas do velhinho.
O programa que trouxe o sertão-veredas para São Paulo fez parte dos "Encontros com Guimarães Rosa", da Secretaria de Cultura do município.
Manuel Nardi, o Manuelzão, fala sobre Guimarães Rosa, mas é visível como ele vibra mesmo é com as suas "tiradas" e o seu farto anedotário particular.
Na palestra de sexta-feira, um estudante mostrou intimidade com o universo "roseano" e pediu ao vaqueiro que citasse nomes de bois que ele mais gostava na sua vida de vaqueiro e sertanejo.
Com um riso safado, Manuelzão se virou para o rapaz: "Meu filho, boi a gente pode chamar qualquer nome, o que eu gosto mesmo é de nome de mulher".
Rosa Amélia
O nome mais bonito, que fica mais "assentado", segundo Manuelzão, é Rosa Amélia.
Danado, exibindo disposição, o vaqueiro disse que a sua vontade era a de trocar a sua mulher, de 72 anos, por várias lolitas de 15 anos.
Voltando ao mundo dos bois e vacas, Manuelzão ironizou a forma como anda desatualizada a sua profissão de vaqueiro: "Boi só anda agora de caminhão".
A vontade do vaqueiro, que agora anda muito de avião, era a de contar histórias a noite inteira. Duas horas de prosa foi muito pouco. Quase nada para o tamanho de Manuelzão.

Texto Anterior: Estudo disseca neo-realismo
Próximo Texto: Asterix ganha novo álbum e exposição
Índice


Clique aqui para deixar comentários e sugestões para o ombudsman.


Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.