São Paulo, terça-feira, 15 de outubro de 1996
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Crianças acampadas cobram soluções

LAURA MATTOS
FREE-LANCE PARA A FOLHA

"Lá embaixo tá o nosso dinheirinho, lá em cima o preço da alimentação...Fernando, Fernandinho, não gostamos de você."
Esse trecho é de uma das músicas cantadas por 400 crianças que participaram ontem do 1º Congresso dos Sem-Terrinha, realizado em São Paulo e organizado pelo Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem-Terra (MST).
O evento, que começou no sábado, Dia das Crianças, e se encerrou ontem, reuniu os filhos dos sem-Terra dos acampamentos do Estado.
Os sem-terrinha ficaram alojados na Associação dos Funcionários da Caixa Econômica Federal. Além de participar de atividades lúdicas como teatro, gincana e dança, escreveram um manifesto à sociedade e votaram uma pauta de reivindicações em uma assembléia.
Cópias do manifesto foram distribuídas em uma passeata com todas as crianças realizada ontem entre o largo São Francisco e a praça da República (centro de São Paulo).
O documento com as reivindicações foi entregue por uma comissão de 11 sem-terrinha ao secretário da Justiça, Belisário dos Santos Júnior e ao secretário adjunto da Educação, Hubert Alqueres.
Entre as reivindicações estão a remuneração de professores para a educação infantil e a legalização das escolas nos acampamentos e assentamentos, construção de postos de saúde, visitas de médicos e dentistas uma vez por semana, liberação de áreas para assentamento e não uso de violências nos despejos dos sem-terra.
Os sem-terrinha gostaram do congresso. Os motivos da aprovação, entretanto, nem sempre foram políticos. "Adorei esse fim de semana porque tinha muita brincadeira", afirmou Patrícia, 9, que está acampada no Pontal do Paranapanema. Letícia, 11, do acampamento de Tremembé, concorda: "O congresso foi muito legal porque tinha muita gente para brincar".
A deputada federal e psicóloga Marta Suplicy, que participou do congresso, disse crianças até os sete anos têm dificuldades para entender o problema da terra.

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