São Paulo, terça-feira, 15 de outubro de 1996 |
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Enterro de ruralista vira ato contra invasões
LUIZ MALAVOLTA
Negrão, o único fazendeiro do Pontal a montar uma equipe armada para impedir invasões e um dos rearticuladores da UDR, morreu às 12h de anteontem, na Santa Casa de Presidente Prudente. A causa da morte, segundo boletim médico, foi isquemia cerebral (falta de oxigenação no cérebro), provocada por crise asmática profunda e broncoespasmo. Negrão deixou mulher e cinco filhos. Mais de cem pessoas acompanharam ontem o cortejo, aberto por Clarice Negrão, 15, filha do fazendeiro. Montada em um cavalo e segurando a bandeira da UDR, ela seguiu à frente, em silêncio, acompanhada de um amigo, em outro cavalo com a bandeira do Brasil. No cemitério São João Batista, o presidente da UDR, Roosevelt Roque dos Santos, destacou a luta de Negrão contra as invasões no Pontal: "Nessa hora, temos de refletir e pedir a união da classe produtora da região para lutar contra a violência das invasões de fazendas". Ele afirmou que Negrão vivia "sob intensa pressão" desde janeiro, quando a fazenda Santa Rita, em Mirante do Paranapanema, de sua propriedade, começou a ser alvo de invasões dos sem-terra. Em setembro, mais de mil sem-terra invadiram a fazenda de Negrão e destruíram cerca de cem hectares de pasto. Ele conseguiu, na Justiça, despejar os sem-terra. Após o despejo, anunciou a formação de um grupo armado. Sem-terra Valter Gomes, da coordenação regional do MST (Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra) no Pontal, disse lamentar a morte de Negrão. Segundo ele, o MST ficou "surpreso" com a notícia. "Lutávamos em campos diferentes. Infelizmente, não conseguimos fazer o fazendeiro Negrão entender que a reforma agrária é um anseio da nação", disse. José Rainha Jr., líder do MST no Pontal, se reuniu a portas fechadas com os coordenadores do movimento para analisar o que muda com a morte de Negrão. O resultado da conversa não foi divulgado. Gomes disse que os sem-terra, acampados em frente à Santa Rita, às margens da rodovia Sandovalina-Teodoro Sampaio, perceberam a chegada de homens para reforçar a segurança. "Eles, provavelmente, temiam que aproveitássemos a situação para ocupar a fazenda." Texto Anterior: Presidente diz que Estado não foi feito para atender aos pobres Próximo Texto: Crianças acampadas cobram soluções Índice |
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