São Paulo, terça-feira, 15 de outubro de 1996
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NAS MÃOS DA JUSTIÇA

As investigações sobre tráfico de influência na Comissão de Orçamento do Congresso Nacional, iniciadas em outubro de 93, apareceram como a segunda grande operação para moralizar o serviço público no Brasil recém-redemocratizado.
A primeira, que levou ao impeachment do presidente Fernando Collor de Mello, mostrou que até a improbidade no Poder Executivo poderia ser punida. Com a CPI do Orçamento, era a vez de mostrar ser possível combater também irregularidades entre representantes do Legislativo.
Depois de três meses de trabalho, a CPI apresentou seu relatório final, que sugeriu a cassação de 18 parlamentares. Ao fim do processo, oito foram absolvidos pelo plenário; seis foram cassados e quatro renunciaram antes da iminente cassação. Mas, na Justiça, três anos depois do início dos trabalhos, nenhum dos envolvidos no esquema de corrupção foi condenado. Apenas um deputado foi autuado pela Receita Federal.
A memória dos brasileiros é sempre apontada como curta, o que facilitaria o reaparecimento de figuras políticas envolvidas em escândalos como o da Comissão de Orçamento do Congresso. Pois o grande desafio da Justiça é exatamente impedir que esse caso, assim como outros inquéritos sobre mau uso do dinheiro público que possam aparecer no futuro, seja esquecido sem que os culpados sejam punidos devidamente.
A demora na conclusão das investigações na Procuradoria Geral da República, que centraliza a maioria dos processos relativos à comissão, não pode de forma alguma prejudicar o resultado final dos inquéritos. Apesar de longe das atenções da opinião pública, o caso envolvendo os chamados "anões" do Congresso deve ser julgado com o máximo rigor.
Qualquer sinal de enfraquecimento nas investigações -naturalmente complexas e demoradas, mas não intermináveis- pode comprometer a confiança da sociedade na capacidade de o poder público apurar irregularidades por ele mesmo cometidas.

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