São Paulo, terça-feira, 15 de outubro de 1996
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OS JUROS "NORMAIS"

Em entrevista na última quarta-feira, em Fontainebleau, França, o ministro Antonio Kandir declarou que as taxas de juros devem cair em 97. Na previsão do titular do Planejamento, juros reais de 10% a 12% ao ano deveriam sobrepor-se a uma inflação da ordem de 6% a 8% em 12 meses. O resultado seriam taxas nominais de 20% ou menos ao ano.
A previsão de estabilização dos preços é animadora e verossímil. Mas a elevada meta de juros merece discussão. Segundo relatório do banco J.P. Morgan, os juros reais de curto prazo estão em 1,9% ao ano na Alemanha, 2,5% nos EUA, 3,6% no Reino Unido e 6,8% na Argentina.
Em coluna publicada no dia anterior à entrevista de Kandir, Celso Pinto mostrou que cada ponto percentual de juros custa hoje cerca de R$ 2 bilhões por ano aos cofres da União. Fica claro que pequenos excessos na política monetária podem custar até mais do que o governo poderá obter, a duras penas, com as reformas administrativa e da Previdência. Um ponto percentual de juros custa o mesmo que 1,45 milhão de aposentadorias de R$ 115.
É claro que as circunstâncias econômicas impõem restrições à atuação do Banco Central. Taxas de juros muito baixas seriam insuficientes para manter a atratividade das aplicações no Brasil. Ainda assim, o comportamento das autoridades monetárias é defensivo demais. Mesmo depois de conter as taxas de crescimento que no início de 95 atingiram 10,4% ao ano e pareciam colocar a estabilização em risco, as taxas financeiras foram mantidas em patamar bastante alto.
Nos últimos meses, a redução dos juros não acompanhou a baixa da inflação. E o resultado foi que, em termos reais, a remuneração dos títulos federais subiu. Além do efeito sobre os cofres públicos, a taxa fixada pelo BC serve de baliza para todo tipo de empréstimo ou crédito. O impacto sobre o setor produtivo é óbvio. Antes de fixar taxas de juros, é preciso ponderar, com cuidado, se são mesmo necessários patamares tão elevados. Até agora, o governo parece pecar por excesso de zelo, prudência que custa caro ao tesouro e ao país.

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