São Paulo, quarta-feira, 16 de outubro de 1996
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Presidente se sai bem na TV

FERNANDO DE BARROS E SILVA
ESPECIAL PARA A FOLHA

O governo de Itamar Franco parecia ser melhor que as possibilidades do presidente. Já o governo de Fernando Henrique parece estar aquém do próprio presidente. Essa impressão, que é de muitos, se confirmou de forma enfática anteontem à noite, durante o "Roda Viva" que submeteu FHC à maior sabatina ao vivo desde que ele chegou ao topo da República.
A visão estruturada das coisas, aliada aos anos de janela do professor, que aprendeu a trocar coisas complexas em miúdos e, quando necessário, desconversar sem parecer sair pela tangente, dão a Fernando Henrique um cacife que é inédito para um chefe de Estado.
Não havia nenhum ingênuo entre os entrevistadores. Alguns, é verdade, não foram ao programa dispostos a apertar FHC. No final, a sensação foi de que ele "dobrou" a bancada de inquisidores e saiu com a expressão serena de quem cumpriu o script com facilidade.
FHC só se mostrou intolerante quando as questões partiram da secretária de Redação da Folha, Eleonora de Lucena. Muitas vezes ríspido, era visível sua predisposição em desqualificar não apenas as perguntas, mas um estilo, digamos, "petulante", que ele deve identificar ao jornalismo da Folha.
É como se ele dissesse à entrevistadora: "Falou como homem, vai apanhar como homem". Sintomaticamente, FHC só se mostrou receptivo a Lucena quando ela, a única mulher da bancada, indagou já no fim do programa sobre o aborto. Pergunta de mulher, resposta desarmada e suave.
Alguém já notou que o "Roda Viva", apesar das aparências, é um programa cuja estrutura em geral favorece o entrevistado, que pode tirar proveito da dispersão de jornalistas para conduzir a conversa pelo caminho mais conveniente.
Isso é pouco para explicar a performance de FHC. Ele se mostrou tão seguro e assertivo que conseguiu dizer coisas muito discutíveis com a autoridade de quem expõe uma verdade irrefutável.
Um exemplo basta para ilustrar isso. FHC falou e repetiu que submeter o projeto de reeleição a referendo popular significaria passar por cima do Congresso e, com isso, seria acusado de "fujimorização". Ora, uma coisa é atropelar o Congresso para dar um golpe de Estado e outra, bem diferente, é seguir o mesmo caminho para submeter tal tema à vontade popular.

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