São Paulo, quarta-feira, 16 de outubro de 1996
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As teles se preparam

LUÍS NASSIF

As teles terão que se preparar para a privatização.
Neste ano, ocorrerão licitações para a banda B da telefonia celular. No próximo ano, deverão ser privatizados os serviços básicos.
Antes de serem privatizadas, as teles terão que competir com concorrentes privados, em uma quadra de grandes transformações tecnológicas, que reduzirão as vantagens de quem dispõe de tecnologia convencional.
Contra elas, pesam a falta de familiaridade com o mercado e as amarrações impostas pela lei das licitações -que tornam demoradas as compras e praticamente impedem a contratação de profissionais experientes no mercado.
A favor, há algum tempo ainda para que elas se preparem e façam valer suas vantagens atuais de únicas operadoras do mercado.
De seu sucesso dependerá o maior ou menor valor a ser apurado com a privatização.
Competitividade
Presente ao Seminário "O Modelo Brasileiro de Privatização nas Telecomunicações" -promovido ontem em São Paulo pela Agência Dinheiro Vivo-, o presidente da Telebrás, Fernando Xavier Ferreira, traçou em linhas gerais a estratégia de competição das teles.
O primeiro passo será a separação institucional dos serviços de telefonia celular. Serão constituídas novas empresas, com um desenho jurídico que permita competir por especialistas no mercado sem se submeter aos limites do funcionalismo público.
O segundo passo foi implementar mudanças culturais e de gestão, visando voltá-las para o mercado.
Antigamente, havia uma diretoria para expansão de plantas e outra para operação, manutenção e comercialização de telefones.
Agora, todas as teles mais a Embratel e a própria Telebrás passaram a contar com uma diretoria de serviços, voltada especificamente para o mercado, atendendo a clientes e comercializando serviços.
Todo o restante -expansão da planta, operação e manutenção- ficou com a diretoria de planta.
O terceiro passo foi a contratação de uma consultoria internacional, em licitação promovida pela União Internacional de Telecomunicações (UIT), visando uma análise de gestão e a recomendação de estratégias operacionais e organizacionais.
O quarto passo é a implantação de um programa de desligamento voluntário controlado.
A Telebrás definirá quais áreas e quais funcionários poderão solicitar seu desligamento. A idéia é esvaziar áreas inchadas, mas sem correr o risco de perder os bons profissionais.
Em todos os casos, haverá enxugamento. A Embratel decidiu que, para cada três demissionários, reporá dois. Teles mais inchadas, como a Telerj, decidiram adotar a posição três por um.
Celular
Segundo Ferreira, a permissão para operadores privados atuarem na banda B não significará perdas para a Telebrás.
Em outros países, primeiro privatizou-se a estatal que operava a banda A do celular para depois abrir-se a banda B. No caso brasileiro, há enorme demanda reprimida, que permitirá conduzir simultaneamente os dois processos.
À medida que surjam novos operadores de celular, a demanda será atendida, gerando mais serviços para a área convencional, administrada pelas teles.
Questão social
Como casar desregulamentação com metas socioeconômicas, como a necessidade de atender áreas carentes?
Como explica o secretário-executivo do Ministério das Comunicações, Renato Navarro Guerreiro, bastará fixar nos contratos de concessão normas sociais que contem pontos para o resultado final.
Cada licitação terá itens referentes à universalização. Quem cobrir maior espaço, ganha mais pontos. Do mesmo modo, haverá premiação extra para quem estender os serviços para locais públicos -como escolas, por exemplo.

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