São Paulo, quinta-feira, 17 de outubro de 1996
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Pessimismo marca obra do diretor

INÁCIO ARAÚJO
DA REDAÇÃO

Eizo Sugawa é uma briga brasileira. O cineasta nascido em 1930 vive o paradoxo de ter obtido mais reconhecimento crítico no Brasil do que no próprio Japão. Talvez isso se deva ao temperamento retirado. Ou à maneira ácida como observou a juventude japonesa nos anos 60.
Diferente de um Nagisa Oshima, em que o aspecto político mitiga a crítica, os primeiros filmes de Sugawa são habitados por personagens que oscilam entre a autodestruição e os sentimentos destrutivos.
É o que se poderá ver em "Desafio à Vida", de 1961, mas também em "Caça às Feras" (1973) e "Volúpia da Vingança" (1974), que estão entre os cinco filmes da retrospectiva dedicada ao diretor nesta Mostra.
Sugawa se diz mais próximo, hoje, de Mikio Naruse, grande expoente do classicismo japonês, de quem foi assistente. Com efeito, "O Rio dos Vagalumes" (1987) assume uma postura intimista, semelhante à de Naruse.
Mas Naruse observa um mundo em que a ausência de subjetividade e o sacrifício (sobretudo feminino) eram figuras centrais, de que Sugawa permanece bem distante.
Mesmo tratando da impossibilidade amorosa -a história é a de dois colegiais apaixonados que não conseguem se aproximar um do outro-, o filme introduz um personagem fracassado (o pai do menino é um comerciante falido) no centro das coisas.
Em "Raros Sonhos Flutuantes" (1990), a história de amor tende ao delírio. Shuji -sintomaticamente, um executivo rebaixado- apaixona-se por Matsuko, mulher vitimada por estranho mal que a faz rejuvenescer continuamente.
Novamente, o pessimismo de Sugawa aponta para a impossibilidade amorosa. Aqui, porém, a história delirante corresponde a uma liberdade narrativa e a uma audácia nas formulações que lembram o jovem Sugawa. Agora maduro, mas ainda inconformista.
(IA)

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