São Paulo, quinta-feira, 17 de outubro de 1996
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Rohmer é cineasta do rigor

MURILO GABRIELLI
ESPECIAL PARA A FOLHA

Diferentemente de alguns colegas do núcleo central da nouvelle vague, o diretor francês Eric Rohmer teve seu reconhecimento e aceitação vagarosamente conquistados.
Menos espetacular que seus pares, manteve relação distante, às vezes turbulenta, com público e crítica. Paradoxalmente, ele é o mais fiel discípulo de André Bazin e rigoroso seguidor da princípios do movimento: participação do autor em todas fases da produção, defesa da independência do cinema em relação a outras artes, abordagem de um universo cotidiano e pessoal.
A explicação talvez surja da necessidade de se analisar o conjunto de obra de Rohmer (crítica e prática) para sua melhor fruição.
Este "Conto de Verão" é exemplo do rigor do cineasta. Por trás de uma história aparentemente banal, esconde-se o intenso labor intelectual em cada detalhe, na elaboração de um tempo e espaço que se realizam não no plano isoladamente, mas em sua sequência.
O filme mostra um jovem que, de férias numa ensolarada Bretanha, se envolve com duas garotas enquanto espera o retorno da namorada. É o espelho reverso do "Conto de Inverno" (de 91), que narrava a relação de uma mulher com três homens nos ambientes fechados do inverno europeu.
Como em quase todas obras de Rohmer, mostra-se a interferência do acaso na vida: a necessidade de se escolher frente a um dilema que se apresenta, o questionamento da fortuna como algo merecido.
A discussão moral resultante se faz não apenas na sequência de planos e gestos, mas nos diálogos abundantes. Segundo alguns detratores, mera prolixidade. Para Rohmer, necessidade de uma arte que se diz falada, na qual as palavras se relacionam não apenas entre si, mas também com a sequência de imagens que as suporta.

Filme: Conto de Verão
Produção: França, 1996, 113 min.
Direção: Eric Rohmer

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