São Paulo, quinta-feira, 17 de outubro de 1996
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Endividados pedem socorro à santa

SERGIO TORRES
DA SUCURSAL DO RIO

A esperança de uma graça divina levou ontem milhares de devedores à igreja de Santa Edwiges, em São Cristóvão (zona norte do Rio).
Padroeira dos endividados e dos pobres, Santa Edwiges teve seu dia festejado na paróquia da rua Fonseca Teles.
Os fiéis faziam filas nos confessionários. No período de duas horas, o padre Rui Félix, 42, ouviu 30 confissões, contra no máximo duas em dias comuns.
A multidão que desde cedo foi à igreja surpreendeu o padre, que esperava uma frequência semelhante à do ano passado.
"Dessa vez, acho que umas 70 mil pessoas vão passar por aqui. A frequência está bem maior", afirmou o padre Félix.
O frentista Roberto Carlos da Silva rezou na igreja acompanhado da mulher Rosane, que está grávida, e da filha Roberta.
Silva demonstrava desespero com dívidas acumuladas desde o ano passado, quando comprou uma casa em Parada de Lucas (bairro na zona norte do Rio).
"Eu morava na casa da sogra e surgiu este ano a chance de comprar uma casinha. Tenho economizado muito, mas está difícil pagar", disse Silva, que colocou flores aos pés da imagem da santa Edwiges, uma rainha da Polônia que dedicou a vida a ajudar os endividados.
Não faltaram críticas à situação financeira do país. Após murmurar preces ajoelhada ao lado da igreja, a aposentada Ediana dos Santos Rosa, 68, reclamou da taxa de juros.
"Dizem que a moeda está estabilizada, mas o dinheiro sumiu. Os juros estão um absurdo. O povo não tem dinheiro", disse.
Tamanha foi a presença de fiéis na igreja, que a Polícia Militar e a Guarda Municipal tiveram que orientar o trânsito e organizar a entrada. A região sofreu congestionamentos o dia inteiro.
Apesar do movimento expressivo, o CDL (Clube dos Diretores Lojistas) do Rio revelou números que negam a tese de que a inadimplência está aumentando.
Segundo com o CDL, em setembro 78.847 pessoas passaram a estar inadimplentes. Isso significa uma queda de 0,9% com relação a setembro de 95.

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