São Paulo, quinta-feira, 17 de outubro de 1996
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Provas do assalto aos cofres públicos

ALOYSIO BIONDI

Meia dúzia de bancos comprou R$ 100 milhões em ações de uma empresa estatal, vendidas pelo BNDES -e, oito meses depois, viram o valor desse "negocinho" dobrar para R$ 200 milhões. Um lucro de 100% em oito meses à custa do patrimônio coletivo (isto é, de todos os brasileiros).
Operações como essa têm sido realizadas pela equipe econômica FHC/BNDES, dentro da pseudopolítica de privatização: Nos últimos dias de fevereiro deste ano, o BNDES vendeu um lote de 1,6 bilhão de ações preferenciais da Telemig, e que pertenciam à Telebrás. Preço mínimo fixado: R$ 63 por lote de mil ações. Valor da operação: R$ 100,8 milhões.
Nesta semana, oito meses depois, as mesmas ações estão valendo praticamente o dobro, na faixa de R$ 120,00. Os R$ 100 milhões viraram R$ 200 milhões.
Quem são os felizes compradores? Não seria justo citar apenas os nomes dos bancos e corretoras envolvidas nessa operação, por um fato muito simples: um sem-número de negócios similares têm sido realizados pela equipe FHC/BNDES.
Pode-se, apenas, registrar que os negócios da privatização estão sendo abocanhados sempre pelos mesmos grupos, num processo sem igual de concentração da riqueza nacional.
Os lucros de 100% com as ações da Telemig são mais um exemplo capaz de comprovar a necessidade de uma devassa sobre a política de privatização e os negócios entre os bancos oficiais e grupos econômicos. Ela somente será possível com a formação de uma CPI pelo Congresso.
CEF, a lixeira
A Caixa Econômica Federal pertence ao governo, isto é, à sociedade. Ela continua a ser transformada pela equipe FHC/BNDES em imensa lixeira na qual os bancos privados, mesmo os altamente lucrativos, descarregam todos os negócios que lhes dão prejuízos.
Pinochio
O presidente da CEF, Sérgio Cutolo, tem tido a ousadia de declarar que a compra de "carteiras imobiliárias" (contratos de empréstimos para a compra de imóveis) pertencentes a bancos privados é um alto negócio.
Chega a dizer que a CEF está em busca de "ativos rentáveis e de liquidez" (de fácil negociação). É. Tão rentáveis e tão líquidos que o governo acaba de lançar um pacote (mentirosamente) habitacional para o mutuário renegociar seus contratos.
A confissão
A CEF "comprou" a carteira imobiliária do Econômico, "vendido" ao Excel. Negociação? "A carteira imobiliária não foi aceita pelo Excel porque continha créditos de difícil cobrança." Explicação do presidente do Excel, Ezequiel Nasser, à imprensa (26 de abril deste ano).
Fora da lei - 1
Até hoje, o Banco Central e a equipe FHC/BNDES não explicaram à sociedade em que lei se basearam para fazer uma esquisitíssima operação de "compra" dos créditos do FCVS (sobra dos contratos de compra da casa própria), que bancos privados teriam a receber do Tesouro.
Fora da lei - 2
Todos os bancos privados, somados, tinham apenas R$ 1,5 bilhão de créditos já vencidos a receber do Tesouro. Em meio à operação de salvação do Banco Nacional, o Banco Central comprou R$ 7 bilhões desses créditos. De apenas quatro bancos. Dívidas que o Tesouro somente iria pagar daqui a 10, 15, 20 anos.
Arrasa-Caixa
A própria Caixa Econômica Federal tinha R$ 5 bilhões de créditos do FCVS, já vencidos, a receber do Tesouro. Já vencidos. Por que a equipe FHC/BNDES não comprou esses créditos, pagando à CEF?
A lista de operações lesivas ao país é interminável. Vale uma CPI.

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