São Paulo, quinta-feira, 17 de outubro de 1996
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Cursinhos Denorex, Rexona etc.

GUSTAVO BERG IOSCHPE
ESPECIAL PARA A FOLHA

"Eu, o mersitema, entre os tecidos sou o maioral/Quando me chamo apical, provoco o crescimento vertical do vegetal..."
Essa é a primeira lembrança que me vem a cabeça quando penso em cursinho. O trecho acima é parte de uma música, cantada em coro, às gargalhadas, por umas duzentas pessoas, às dez da noite, usando o ritmo da marchinha de Carnaval "bota camisinha, bota meu amor; hoje tá chovendo, não vai fazer calor". Na nossa versão, ela prossegue assim: "engrossa arvorezinha, engrossa por favor, câmbio e floema a todo vapor".
Até hoje eu me impressiono quando lembro que conseguia me divertir com qualquer coisa naquela época, fazendo cursinho à noite depois de um dia inteiro de aula.
Mas essa é justamente a magia dos cursos pré-vestibular. Uma magia que pode ser ilusória.
A maioria dos vestibulandos que tem recursos vai fazer cursinho direto, sem se preocupar muito em ver se aquilo faz sentido. O problema é que os vestibulares estão evoluindo e os cursinhos continuam parados, e quem paga o pato do atraso é você.
O que está acontecendo hoje é que a maioria das faculdades faz uma seleção que privilegia o raciocínio e a análise, deixando a esperteza e a malandragem -nas quais os cursinhos são craques- um pouco de lado.
O cursinho ainda faz um trabalho bastante útil porque ensina de uma forma relax, fornece um bom material didático e -fundamental- ainda é o melhor lugar no planeta para se arranjar um cobertor de orelha (namorado (a).
Porém, se você decidir entrar num cursinho, pesquise bastante para achar um cursinho legal, porque o que tem de picaretagem, cursinho Denorex (parece, mas não é), cursinho Rexona (sempre cabe mais um) e cursinho Hellman's (a verdadeira maionese) não é brincadeira.
Além disso, você tem de estar sabendo que aquilo não é tábua de salvação e que você vai ter de buscar recursos de várias outras fontes, se preocupando sempre em estar preparado para um vestibular que exija de você mais do que a simples decoreba.
Em algumas áreas, aliás, o cursinho é uma falência completa, como no ensino de língua portuguesa e de redação.
Mas também não precisa ficar se preocupando muito, e pode soltar o grito do gogó que faz bem: "Saiba toda vez que o pau engrossa/ O que?/ É o secundário mersitema/ Engrossa arvorezinha..."

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