São Paulo, quinta-feira, 17 de outubro de 1996
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Além dos limites do convento

CARLOS CORTEZ MINCHILLO
ESPECIAL PARA A FOLHA

Fazer o homem voar: esse é o sonho do padre Bartolomeu de Gusmão. Orientado por estranhas teorias sobre o magnetismo e auxiliado pelo casal Baltasar e Blimunda, o padre constrói em Portugal do século 18 a passarola, uma clandestina máquina de voar, mantida em segredo por afrontar idéias religiosas da Inquisição.
Simultaneamente ao projeto -movido pela paixão, esforço e crença na capacidade de o homem superar seus limites- ergue-se o Convento de Mafra, gigantesca obra financiada pela coroa e fruto de uma promessa feita pelo rei D. João 5º, que desejava um herdeiro.
A construção do convento, associando o poder e os interesses do Estado aos da igreja, demanda enormes gastos, usurpa propriedades de gente do povo, força ao trabalho incontáveis operários. O prédio, pretensamente religioso, é o retrato da tirania e dos caprichos de um governo perdulário e de uma fé afastada de princípios éticos.
Romance histórico pós-moderno, "Memorial do Convento" mescla personagens baseadas em figuras da história a outras plenamente ficcionais. A linguagem ora parodia o estilo barroco -marcado por inversões, antíteses sintaxe sinuosa- ora reproduz um tom francamente popular e debochado.
O narrador conduz com ironia os acontecimentos, permitindo que se manifestem as vozes das personagens, que se misturam a sua, já que a pontuação do discurso direto é suprimida.

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