São Paulo, quinta-feira, 17 de outubro de 1996
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

Alanis Morissette diz que está mais calma

EVA JOORY
DA REPORTAGEM LOCAL

A cantora canadense Alanis Morissette, 22, se apresenta no Brasil entre os dias 21 e 23. Os dois primeiros shows ela faz no Olympia, em São Paulo, e o último, no dia 23, no Metropolitan do Rio.
Segundo a bilheteria do Olympia, os ingressos para os shows de São Paulo já estão esgotados.
Morissette é um fenômeno de vendas. Seu disco, "Jagged Little Pill", o terceiro e o único a ter alcançado sucesso mundial, vendeu 20 milhões de cópias.
Só nos EUA vendeu 12 milhões de cópias, igualando o recorde alcançado até agora somente por Whitney Houston, na categoria vocal feminino. No Brasil, ela já é disco de ouro.
Durante o discurso que fez no MTV Music Awards, Morissette agradeceu o prêmio de melhor clipe com "Ironic" em nome de suas concorrentes, pedindo o fim da competição:
"Acho que a música deveria ser um motivo de celebração. Não acredito em competição dentro das artes, cada um tem a sua forma de expressão pessoal", disse em entrevista à Folha por telefone do México. Leia a seguir a entrevista.
*
Folha - Você vai cantar músicas novas nos shows brasileiros?
Alanis Morissette - Sim. Tenho umas seis prontas e devo tocar duas a cada show. "Can't Not", "No Pressure Over Capuccinos", "King of Intimidation" e "I Don't Know" são algumas. Essas músicas podem não fazer parte do disco novo, são músicas que compus durante as turnês que venho fazendo. É uma maneira de me sentir criativa.
Folha - Como consegue ficar tanto tempo longe de casa, em turnê?
Morissette - É difícil. Mas enquanto eu puder meditar, fazer ioga e conversar com amigos de vez em quando, fica mais fácil ter forças para continuar.
Folha - Estar na estrada é uma fonte de inspiração para você?
Morissette - Não. Para mim é mais fácil compor quando estou em casa, quando tenho mais tempo para refletir. Em turnê, a sua energia é gasta na sobrevivência.
Folha - Você tem planos para um disco novo?
Morissette - Sim, tenho gravado muitas coisas, mas prefiro tirar dois meses de férias. Vou à Índia. Também estou construindo um estúdio. Não me importa quanto tempo eu leve para gravar, não tenho pressa.
Folha - Quais emoções vão orientar seu novo disco? A experiência da estrada te influenciou?
Morissette - Sim, mas não a ponto de escrever sobre ela, seria muito entediante. Quero escrever sobre o que eu aprendi na estrada.
Folha - Vai ser um disco mais quieto e sem...?
Morissette - Intensidade? Acho que sim. Será mais calmo, porque me sinto assim. Mas ainda tenho muitas emoções no meu subconsciente que não deixo sair, porque não é algo que devo tornar público a cada cinco minutos. Muita coisa vai estar no meu disco, mas não prometo nada.
Folha - Você se tornou uma pessoas mais calma?
Morissette - Sim, mas isso não significa que eu tenha me tornado menos intensa. Estou mais contemplativa e menos falante.
Folha - O que mudou na sua personalidade? Você ainda se sente uma cantora furiosa e angustiada, como quando escreveu seu disco?
Morissette - Sim. Ainda tenho muita raiva e acho que ainda tenho muito a dizer. Não sinto a necessidade de dizer essas coisas para alguém, mas preciso arrancá-las de mim, e meu jeito de fazê-lo é através da música. Esse tipo de vida me fez enfrentar situações. Não tenho mais medo de conflitos internos.
Folha - Quais as suas expectativas de tocar no Brasil?
Morissette - Nenhuma. Nunca tenho expectativas em lugar nenhum. Só quero fazer meu show. Espero que, ao meu lado, as pessoas possam liberar tudo o que está dentro delas. Não estou interessada em adulação e sim em ver as pessoas se liberarem.
Folha - Você gosta de shows? Hoje eles estão ficando chatos, por uma série de problemas técnicos.
Morissette - Eu adoro, mas não vou sempre. O último que assisti foi o de Tori Amos, que gostei. Mas entendo seu ponto. Os shows nos anos 80 eram mais grandiosos, feitos para entreter o público. Hoje isso ficou em segundo lugar. Eu sinto falta disso. Quero ir a shows para me divertir.
Folha - Você foi rotulada como a porta-voz da geração X, abrindo a cabeça das pessoas. Esse título ainda te incomoda?
Morissette - Não sinto nenhuma responsabilidade em fazê-lo, mas não me importo em ser porta-voz de pessoas que não conseguem articular seus sentimentos. Eu escrevo para mim. Gostaria de ter tido alguém assim na minha adolescência.

Texto Anterior: Banda conquista latino-americanos
Próximo Texto: Administrador se suicida em Maceió ouvindo Legião Urbana
Índice


Clique aqui para deixar comentários e sugestões para o ombudsman.


Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.