São Paulo, quinta-feira, 17 de outubro de 1996
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'Impasse total' se aproxima, diz OLP

JAIME SPITZCOVSKY
DE PEQUIM

O processo de paz no Oriente Médio caminha para "um impasse total, pois os israelenses não respeitam o que assinam", e novos confrontos podem explodir na região, avaliou ontem Faruq Kadumi, "ministro" das Relações Exteriores da Organização para a Libertação da Palestina (OLP).
Em entrevista à Folha, Kadumi também defendeu a presença de tropas norte-americanas na região, para viabilizar a implementação do processo de paz.
A Autoridade Nacional Palestina, presidida por Iasser Arafat, não corresponde a um Estado independente, controla regiões palestinas com "autonomia" diante da ocupação israelense e não conduz política externa própria, segundo acordo firmado com Israel.
Mas a liderança palestina continua a manter sua diplomacia, e Kadumi desembarca como chanceler em países que reconhecem o Estado palestino. É o caso da China, onde Kadumi realiza uma visita de quatro dias, iniciada domingo.
Leia trechos da entrevista:
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Folha - Como o sr. avalia a proposta de usar tropas norte-americanas para proteger os colonos judeus em Hebron?
Faruq Kadumi - Desde o começo (do processo de paz) pedimos à ONU que enviasse suas forças para evitar conflitos, especialmente em Hebron, onde vivem cerca de 120 mil palestinos e algumas centenas de israelenses.
Eu acho que é uma boa idéia ter as tropas norte-americanas em Hebron, porque os dois lados confiam nos norte-americanos. Além disso, os norte-americanos podem influenciar os israelenses, que não vão impedir os norte-americanos de cumprirem a sua missão.
Folha - Pode explodir uma nova onda de violência na região, como ocorreu recentemente?
Kadumi - Os israelenses devem fazer o possível para evitar fricções. Ocupação é o nível mais alto de terrorismo. Ocupação é a causa da tensão. Acrescente a isso o fato de que os israelenses, como força de ocupação, tomaram certas atitudes para provocar os palestinos, como confiscar mais terras, construir novas colônias.
É responsabilidade dos israelenses tomar atitudes para diminuir tensões em Gaza e na Cisjordânia. Eles estão empurrando as pessoas à resistência, e isso quer dizer que a violência vai explodir novamente.
Folha - Então o que fazer para impedir nova onda de violência?
Kadumi - As forças israelenses devem se retirar da Cisjordânia e de Gaza. Essa é a resposta. Por que estão lá?
Folha - O que pode acontecer com o futuro político de Iasser Arafat caso o processo de paz não avance ou até mesmo fracasse?
Kadumi - É uma questão baseada em hipóteses. Não posso prever o que aconteceria. De acordo com minha visão, os israelenses não têm credibilidade. E o processo vai desembocar num impasse total, pois os israelenses não respeitam o que assinam.
Desde o começo, Yitzhak Rabin (primeiro-ministro de Israel assassinado em 1995) deveria retirar as tropas de Gaza, e ele não fez isso. Retirou apenas de 66% do território. Há vários exemplos que mostram que os israelenses não estão convencidos de que o processo de paz deve ter sucesso.
Folha - O sr. disse que o "fundamentalismo judaico" foi o principal vencedor das eleições israelenses de maio passado. Mas, durante a campanha eleitoral, o candidato trabalhista, Shimon Peres, com plataforma pró-paz, estava na frente do seu rival Binyamin Netanyahu até ataques suicidas de militantes islâmicos. O sr. não acha que esse terrorismo influenciou o resultado da eleição israelense?
Kadumi - Não concordo. O Hamas (Movimento de Resistência Islâmico, grupo radical palestino contrário à paz com Israel) atacou em retaliação aos atos criminosos dos israelenses. Nós tentamos esfriar ânimos, mas não podemos melhorar certas coisas quando as pessoas sofrem a pressão das forças israelenses.
Folha - O sr. disse que o governo israelense não tem credibilidade. Então por que negociar com um interlocutor que, de acordo com a sua avaliação, não tem credibilidade?
Kadumi - Temos de provar à comunidade internacional que os palestinos estão buscando a paz. Precisamos do apoio da comunidade internacional, principalmente das potências ocidentais, que são amigas de Israel. Temos de provar a eles que eles devem apoiar a causa da paz.
Folha - Como lidar com os grupos palestinos que são contrários ao processo de paz?
Kadumi - Eu não creio que o povo palestino seja contrário ao processo de paz. Gostaria de lembrar que, durante a Conferência de Madri (1991), os palestinos comemoraram nas ruas o começo do processo de paz. Mas os israelenses não fizeram isso. Os palestinos estão cansados da diáspora, querem voltar a suas casas.

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