São Paulo, sexta-feira, 18 de outubro de 1996 |
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Infrator não teme redução da idade penal
ANDRÉ LOZANO
Eles dizem também que não se importam com a proposta de diminuição da idade penal porque continuariam cometendo infrações caso ela fosse aprovada. A Folha percorreu o quadrilátero na semana passada. Foram visitadas unidades consideradas graves (com casos de homicídio, latrocínio e estupro, por exemplo) e médias (uso de drogas, furtos e pequenos roubos, por exemplo). "Isso aqui não recupera ninguém. A gente vive como bicho", disse F.J.M., 17, internado na UE-5, acusado de latrocínio (roubo seguido de morte). A unidade tem capacidade para 60 garotos, mas abriga 63. Os menores dormem em quartos que chamam de "barracos". Nos barracos -que têm apenas um visor na porta que dá acesso ao corredor e que permanecem trancados à noite- dormem dois adolescentes. O banheiro coletivo da unidade não tem papel higiênico e o mau cheiro invade os quartos. Sabonetes, quando há, são divididos ao meio e cada metade tem de durar pelo menos dez dias nas mãos dos internos. "Se tiver de entrar na vida do crime, ninguém liga para a idade que tem", disse M.M.C., 18. Já adolescentes com idade entre 14 e 16 anos e internados em uma unidade de infrações médias dizem que pretendem se recuperar. "Eu quero sair daqui e mudar de vida", disse J.R.V., 16, que está internado há dez meses na UE-16. Ele também não acredita que o rebaixamento da idade penal vá diminuir os atos infracionais. "A Febem é a mesma coisa que a cadeia. Quem tem medo de uma tem da outra. Não é isso que impede o crime." Modelo A Febem mantém uma unidade considerada modelo, a UE-18, na Imigrantes (zona sul). A unidade promove saídas com os menores infratores com objetivo de prepará-los para o retorno à sociedade. Os adolescentes são levados a atividades denominadas "extramuros": teatro, cinema, circo e campos de futebol. "Trabalhamos com o sistema de progressão das medidas socioeducativas", diz o diretor da unidade, Vicente Paulo Silva. O diretor está implantando também o sistema de autogestão da unidade. "Hoje os menores já administram o café da manhã. Eles são os responsáveis pelos mantimentos", afirma Silva. Texto Anterior: Instituições estão sem verba Próximo Texto: Febem não está "em sintonia" com a lei Índice |
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