São Paulo, sexta-feira, 18 de outubro de 1996
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Kirov enfrenta a crise financeira na Rússia

ANA FRANCISCA PONZIO
ESPECIAL PARA A FOLHA, DE BUENOS AIRES

Com a destituição de Oleg Vinogradov do cargo de diretor artístico, que ele ocupou durante 19 anos, o Ballet Kirov agora é conduzido por Makhar Vaziev, um caucasiano de 35 anos que ingressou na companhia em 1970 para se tornar um de seus principais bailarinos.
"Por enquanto, o cargo de diretor artístico não existe. Fui nomeado diretor de balé e diretor administrativo do Kirov", diz Vaziev, que representa a atual fase de transição da companhia.
À frente de um elenco que ainda reúne alguns dos melhores bailarinos do mundo, Vaziev afirma que não está sendo fácil enfrentar a crise financeira que a Rússia atravessa atualmente.
"Mas não quero me lamentar. Temos que trabalhar com essa realidade e procurar novas soluções. Os maiores valores culturais da Rússia são a literatura e o balé e eu acredito que o governo não vai deixar que o Kirov morra por falta de dinheiro", ele diz.
Vaziev prefere não divulgar a verba anual que o Kirov recebe do Estado, ainda o único a subsidiar a companhia. "Garanto apenas que, hoje, qualquer outro grupo de padrão internacional recebe mais do que nós".
Para contornar a situação, o Kirov vem realizando turnês por vários países. Após sua temporada no Brasil, que começa no próximo sábado em Curitiba e termina dia 14 de novembro em Goiânia, o grupo se apresentará no Japão e na Inglaterra.
Sobrevivência
"A arte verdadeira sobrevive às situações mais difíceis", comenta Vaziev. Ele afirma que ainda acredita que a tradição cultivada pela companhia atravessará o próximo século.
"Nosso teatro, o Maryinsky, existe há 250 anos. Ao longo desse tempo, sempre tivemos professores capazes de nos ensinar, com minúcias e fidelidade às obras originais, o repertório clássico do balé", diz.
"Esses ensinamentos transmitidos de geração a geração fazem parte de nossa tradição, que deve ser mantida", completa.
Embora o Kirov possua um repertório clássico que hoje é quase um patrimônio universal, Vaziev afirma que está aberto para novas criações.
"Quero criar condições para que novos coreógrafos russos realizem espetáculos para o Kirov. Quero descobrir talentos em meu país, pois é sempre complicado convidar coreógrafos ocidentais para trabalhar conosco."
"Não podemos convidar um coreógrafo que não disponha de pelo menos seis meses para conhecer a companhia e seu estilo", ele afirma.

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