São Paulo, sexta-feira, 18 de outubro de 1996
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Faltam palavras nos assaltos de "Nocaute"

NELSON DE SÁ
DA REPORTAGEM LOCAL

O projeto, a montagem era outra, das atrizes Cláudia Schapira e Lu Grimaldi e da diretora Beatriz Sayad. Era encenar um texto que Dionísio Neto, um dos candidatos a autor da nova dramaturgia, escrevia a pedido delas.
Um primeiro ou segundo tratamento chegou a ser apresentado pelas duas atrizes, em leitura dramática pública. Mas antes mesmo da apresentação o projeto já havia mudado inteiramente.
Para serem "cronistas do tempo", citação que fazem de Zé Celso, assumiram a dramaturgia e levaram em frente. "Não deu para parar", escrevem no programa.
Talvez devessem ter parado. Seria outro o resultado, certamente, fosse mantido o projeto inicial de trabalhar com um autor.
O que impede que este "Nocaute" se torne uma montagem à altura do imenso lirismo de "Violeta Vita", feito pelas duas atrizes, ou do delicado humor de "1337", de Beatriz Sayad, é precisamente o texto, ou a falta de.
Um texto que, no caso, se compõe vagamente de quadros ou cenas e que permitiu, até apontou para a obviedade de uma mise-en-scène de luta de boxe -com o ringue, o figurino, todo o conhecido aparato de espetáculos como "A Megera Domada" ou "A Bilha Quebrada".
Os quadros ou "assaltos", ou ainda, "rounds" são, com poucas exceções, cenas que não foram devidamente desenvolvidas, tiradas -e mantidas- brutas de ensaios ou imagens do cotidiano.
Está lá o "nocaute" da violência urbana diária, em vários matizes -mas ainda na superfície, sem o aprofundamento que algum texto escrito com tempo e cuidado talvez possibilitasse.
A peça chega ao extremo de comentar as próprias cenas pejorativamente, no que é certamente uma marcação para aproximar o público, mas também um reconhecimento de que o espetáculo, feito com "urgência", sem tempo, não está de todo pronto.
Cláudia Schapira e Lu Grimaldi têm boas cenas, cenas de invenção, a primeira no humor, a segunda na tragédia, mas nada que se mantenha em constância.
Também Beatriz Sayad, ela própria uma jovem atriz de talento, mostrou a que veio na direção das duas intérpretes de "Nocaute". Ambas se desenvolveram mais e parecem explorar novidades da interpretação sabidamente física, mas suave, de Beatriz.
Porém, é pouco e não sustenta um espetáculo.

Título: Nocaute
Direção: Beatriz Sayad
Trilha sonora: Laura Finocchiaro e Julian Tirado
Quando: qui a sáb, 21h30; dom às 20h30
Onde: Centro Cultural São Paulo - sala Paulo Emílio (r. Vergueiro, 1.000, tel. 277-3611)
Quanto: R$ 8

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