São Paulo, sexta-feira, 18 de outubro de 1996
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Obra enquadra Moreira da Silva, inventor do samba-de-breque

SYLVIA COLOMBO
DA REDAÇÃO

Antonio Moreira da Silva poderia ter sido apenas mais um sambista que animava as noites do Estácio carioca não fosse um modesto episódio ocorrido no Cine Teatro Méier em abril de 36.
Naquela noite, enquanto interpretava "Jogo Proibido", de Tancredo Silva, Moreira interrompeu o acompanhamento musical com um gesto manual. Silêncio. Arrematou: "Eu meto ácido no nariz do otário. O homem cai e diz: 'Moreira, eu vou morrer." Nascia o samba-de-breque.
"Moreira da Silva, o Último dos Malandros", que está sendo lançado pela Record, refaz a trajetória do sambista no contexto da malandragem carioca dos anos 30.
O autor, o jornalista baiano Alexandre Augusto Gonçalves, 23, levou dois anos para recolher o material para a biografia, que tem prefácio do também jornalista Sérgio Cabral.
Traz ainda a discografia completa do sambista, com 26 discos (incluindo parcerias) e um pequeno glossário da malandragem, que reúne gírias e expressões relativas à prostituição, boemia e temas correlatos.
Samba-de-breque
O livro defende que Moreira foi o único militante de sua própria criação, o samba-de-breque -estilo que alterna gírias e frases com interrupção brusca da música.
Para o autor, os sucessores e aprendizes em potencial foram arrebatados pelo novo cenário musical carioca dos anos 60. Cenário este das canções engajadas, do tropicalismo e da bossa nova.
A radiografia de sua origem simples e pobre toma boa parte do livro, que descreve o primeiro emprego de Moreira aos nove anos, e histórias de seu período como taxista e motorista noturno. Moreira teve, também, mulher e filho mortos por complicações do parto.
O tom coloquial marca a narrativa, como que tentando tratar de forma corriqueira os fatos da vida de um letrista do cotidiano.
A dose só é ultrapassada quando este tom é usado para tratar de temas dramáticos, como a passagem acima citada, que tem como complemento o comentário: "O Mulatinho ficou triste, mas um pouco aliviado. De alguma forma, tirou uma grande responsabilidade das costas."
Antonio Moreira da Silva nasceu no Rio em 1902 e teve o pai morto aos 8 anos. Sua obra prolífica espalha-se por várias gravadoras que à época acolhiam a popularização do samba. Trabalhou na rádio Mayrink Veiga e em 39 participou do filme "A Varanda dos Rouxinóis", de Leitão de Barros.
"Moreira da Silva, o Último dos Malandros" dá um panorama claro de como o samba se popularizou nos anos 20/30, por meio das inúmeras rádios que surgiram, da proliferação dos long-plays a partir dos anos 50 e o nascimento do Carnaval de rua, que remonta ao bloco Deixa Falar, do mesmo Estácio de Moreira.

Livro: Moreira da Silva, o Último dos Malandros
Autor: Alexandre Augusto
Lançamento: editora Record
Preço: R$ 30 (312 páginas)

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