São Paulo, sexta-feira, 18 de outubro de 1996 |
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Obra enquadra Moreira da Silva, inventor do samba-de-breque
SYLVIA COLOMBO
Naquela noite, enquanto interpretava "Jogo Proibido", de Tancredo Silva, Moreira interrompeu o acompanhamento musical com um gesto manual. Silêncio. Arrematou: "Eu meto ácido no nariz do otário. O homem cai e diz: 'Moreira, eu vou morrer." Nascia o samba-de-breque. "Moreira da Silva, o Último dos Malandros", que está sendo lançado pela Record, refaz a trajetória do sambista no contexto da malandragem carioca dos anos 30. O autor, o jornalista baiano Alexandre Augusto Gonçalves, 23, levou dois anos para recolher o material para a biografia, que tem prefácio do também jornalista Sérgio Cabral. Traz ainda a discografia completa do sambista, com 26 discos (incluindo parcerias) e um pequeno glossário da malandragem, que reúne gírias e expressões relativas à prostituição, boemia e temas correlatos. Samba-de-breque O livro defende que Moreira foi o único militante de sua própria criação, o samba-de-breque -estilo que alterna gírias e frases com interrupção brusca da música. Para o autor, os sucessores e aprendizes em potencial foram arrebatados pelo novo cenário musical carioca dos anos 60. Cenário este das canções engajadas, do tropicalismo e da bossa nova. A radiografia de sua origem simples e pobre toma boa parte do livro, que descreve o primeiro emprego de Moreira aos nove anos, e histórias de seu período como taxista e motorista noturno. Moreira teve, também, mulher e filho mortos por complicações do parto. O tom coloquial marca a narrativa, como que tentando tratar de forma corriqueira os fatos da vida de um letrista do cotidiano. A dose só é ultrapassada quando este tom é usado para tratar de temas dramáticos, como a passagem acima citada, que tem como complemento o comentário: "O Mulatinho ficou triste, mas um pouco aliviado. De alguma forma, tirou uma grande responsabilidade das costas." Antonio Moreira da Silva nasceu no Rio em 1902 e teve o pai morto aos 8 anos. Sua obra prolífica espalha-se por várias gravadoras que à época acolhiam a popularização do samba. Trabalhou na rádio Mayrink Veiga e em 39 participou do filme "A Varanda dos Rouxinóis", de Leitão de Barros. "Moreira da Silva, o Último dos Malandros" dá um panorama claro de como o samba se popularizou nos anos 20/30, por meio das inúmeras rádios que surgiram, da proliferação dos long-plays a partir dos anos 50 e o nascimento do Carnaval de rua, que remonta ao bloco Deixa Falar, do mesmo Estácio de Moreira. Livro: Moreira da Silva, o Último dos Malandros Autor: Alexandre Augusto Lançamento: editora Record Preço: R$ 30 (312 páginas) Texto Anterior: Teatro de Shepard está em seus contos Próximo Texto: GLOSSÁRIO Índice |
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