São Paulo, sexta-feira, 18 de outubro de 1996
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Pressionado, Ieltsin demite general Lebed

DAS AGÊNCIAS INTERNACIONAIS

Em anúncio pela TV, o presidente russo, Boris Ieltsin, demitiu Alexander Lebed, seu principal homem para assuntos de segurança.
Ieltsin afirmou que não poderia mais tolerar a falta de espírito de equipe de Lebed e sua ambição de se tornar o próximo presidente.
O anúncio deve acabar com os meses de enfrentamento entre o general e os outros membros do governo russo. Os confrontos chegaram a um extremo anteontem, quando o ministro do Interior da Rússia, Anatoli Kulikov, acusou Lebed de tramar um golpe com o apoio dos rebeldes tchetchenos.
A demissão ocorreu depois de uma reunião de ministros convocada pelo premiê Viktor Tchernomirdin sobre o futuro de Lebed.
A demissão de Lebed já havia sido pedida várias vezes, mas Ieltsin a havia adiado porque o general é muito popular e representa uma visão diferente no Kremlin.
Ao demitir Alexander Lebed, Ieltsin assumiu o risco da possibilidade de um retorno do conflito na Tchetchênia, suspenso por um acordo de paz obtido pelo general.
Assumiu também o risco de ter a pessoa mais popular entre os russos na sua oposição -o secretário do Conselho de Segurança da Rússia foi recentemente eleito o político mais confiável do país, com 40%, contra 11% de Ieltsin.
A possibilidade de um golpe de Estado liderado por Lebed, que afirmou várias vezes que o Exército do país poderia se sublevar, foi descartada pelos líderes russos.
Após saber da sua demissão, Lebed pediu que seus aliados mantivessem a calma, mas afirmou que será um "outono quente".
Questionado sobre o que faria se civis e militares saíssem em sua defesa, apenas disse: "Quero ver primeiro se isso vai acontecer".
Lebed, que tinha apenas um cargo consultivo, estava isolado no Kremlin na defesa de mais dinheiro para o Exército russo e de seu acordo de paz com os tchetchenos.
Mantinha "acordo de cavalheiros" com Tchernomirdin para não se atacarem. Discordava do chefe de gabinete, Anatoli Tchubais, sobre as reformas de mercado.
O general havia acusado o ministro do Interior russo de manter o conflito na Tchetchênia propositadamente e havia pedido a sua demissão anteriormente.
Confrontou-se também com o ministro da Defesa, Igor Rodionov, ao rejeitar a redução das Forças Armadas e ao reclamar dos baixos salários dos militares.
A repercussão da demissão de Lebed mostrou-se principalmente pela preocupação com a volta do conflito na Tchetchênia, como indicou a chancelaria britânica.
Os Estados Unidos disseram que a Rússia parecia ainda estar estável e que a demissão não parecia representar muitas mudanças.
O secretário da Defesa dos EUA, William Perry, em visita a Moscou, chegou a cancelar um encontro que teria com Lebed.
Dia quente
Antes do anúncio de Ieltsin, o dia em Moscou foi marcado por uma série de indícios de que alguma coisa importante deveria ocorrer.
Pela manhã, Tchernomirdin convocou a reunião com os ministros da Defesa e do Interior e com o chefe de gabinete de Ieltsin.
Na reunião, Tchernomirdin disse que muito do que Kulikov havia afirmado (que Lebed tentava dar um golpe) era verdade. Pediu então que as tropas do país se mantivessem em calma.
Talvez pensando na possibilidade de um motim, cerca de 2.000 soldados ligados ao Ministério do Interior foram enviados a Moscou para patrulhar as entradas da cidade e os locais movimentados.
Em seguida, seguranças de Lebed prenderam e desarmam homens que seguiam o general a mando do Ministério do Interior.

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