São Paulo, sexta-feira, 18 de outubro de 1996 |
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Vírus mutante de resfriado cura câncer Teste inicial ataca tumor de cabeça e pescoço RICARDO BONALUME NETO
A descoberta está descrita na edição de hoje da revista científica americana "Science". A equipe do pesquisador Frank McCormick, da companhia farmacêutica Onyx, de Richmond, Califórnia (EUA), conseguiu reduções "significativas" no tamanho dos tumores e a regressão de 60% dos tumores nos animais. A terapia tem o potencial de ser utilizada em cerca da metade dos cânceres que afetam seres humanos. Ela está em fase inicial de testes em pacientes afetados por cânceres na cabeça e no pescoço. A base do experimento é uma coincidência bioquímica: o vírus chamado adenovírus humano consegue infectar células e se reproduzir ao "desligar" a maquinaria celular que também é responsável pela supressão de tumores (veja quadro ao lado). Os adenovírus são vírus que atacam as vias respiratórias. O adenovírus tem um gene, o E1B, responsável pela produção de uma proteína necessária para a sua reprodução na célula que ele infecta. Essa proteína é uma "ferramenta" que torna inativa uma proteína da célula, a p53. A p53 tem a função básica de impedir a duplicação de material genético defeituoso -ou "invasor", como aquele que um vírus injeta na célula. A equipe de onze pesquisadores da Onyx utilizou um adenovírus mutante, do qual havia sido retirado o gene E1B. Ou seja, esse vírus modificado pelos cientistas não tem como inativar a p53. Ele portanto não conseguiu se reproduzir em células normais. O próximo passo foi testar o mutante contra tumores, pois mais da metade das células cancerosas não possuem a p53. Os resultados com células em tubos de ensaio deram certo. Também foram bem sucedidos os testes feitos com ratos nos quais células cancerosas humanas tinham sido enxertadas. O grande valor do tratamento é sua especificidade. O vírus mutante ataca apenas as células cancerosas, deixando incólume o tecido sadio em torno. Ainda existem muitas dúvidas sobre a terapia. Um dos problemas é o próprio sistema de defesa do corpo, que pode diminuir a ação dos vírus -nos camundongos, o sistema de defesa contra infecções tinha sido desligado para permitir o enxerto de células humanas com tumores. Se o ataque viral der certo também em pessoas, permanece o problema de como levar o vírus aos tumores mais profundos. Nos experimentos até agora foram usados tumores superficiais, nos quais o vírus podia ser injetado diretamente. Texto Anterior: Estudo prova ligação entre fumo e câncer Próximo Texto: Colegas levam jovem a suicídio Índice |
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