São Paulo, sexta-feira, 18 de outubro de 1996 |
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COBERTOR CURTO O déficit comercial de setembro confirma o que há meses é sabido e temido: são enormes as dificuldades para compatibilizar estabilização e equilíbrio no comércio exterior. A estabilidade de preços tem origem sobretudo na estabilidade do câmbio, que ao lado da abertura comercial traz a concorrência dos importados. Mas, quando a economia ensaia uma recuperação, como ocorre nos últimos meses, essa propensão maior a importar torna o déficit comercial praticamente inevitável. Em setembro, chegou-se ao maior déficit desde junho de 95, US$ 655 milhões. Até o fim do ano, deve passar de US$ 2 bilhões. Para 97, os mais pessimistas (ou realistas?) esperam importações superiores em mais de US$ 5 bi às exportações. A questão já não é se haverá déficits, mas qual será o rumo da política econômica. Há três cenários. O cenário mais arriscado é o da passividade. Numa fase em que a prioridade talvez seja crescer mais para criar um clima favorável à reeleição, o governo iria convivendo com os déficits, eventualmente perdendo reservas internacionais. Passado o ciclo político, viria novo arrocho. O cenário menos provável é o de uma desvalorização maior da taxa de câmbio. Vários economistas têm defendido a tese de que, com inflação próxima a zero, atividade econômica em alta, mas ainda moderada, e juros externos estáveis, uma correção cambial mais forte não seria fatal para a estabilização. Nem a inflação dispararia, nem os investidores fugiriam. Ao contrário, viriam com mais confiança, supondo o fim do câmbio artificialmente valorizado. O cenário mais provável é o de acomodação gradual. Ou seja, fica tudo como está, mas os juros caem menos ou até param de cair, para evitar maior aquecimento econômico e manter o interesse dos investidores estrangeiros que abastecem o Banco Central com reservas internacionais. Que o cobertor é curto, já se sabe. Mas nos próximos meses deve ficar no mínimo mais tenso o confronto entre os defensores desses cenários, dentro e fora da equipe econômica. Próximo Texto: NOMENKLATURA Índice |
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