São Paulo, sábado, 19 de outubro de 1996
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Roese vai à fábrica para poder jogar

Em crise, Superliga começa hoje

SÉRGIO KRASELIS
DA REPORTAGEM LOCAL

A temporada 96/97 da Superliga Nacional Masculina de Vôlei começa hoje com equipes em crise.
A falta de patrocínio para times como a Sociedade Ginástica (RS), campeã brasileira na temporada 94/95, a Associação Cocamar (PR), o Minas Tênis Clube (MG) e o Palmeiras (SP) é um sinal de que os times estão tendo problemas para disputar o torneio.
Uma prova disso é a maneira que o levantador Paulo Roese, 33, encontrou para jogar.
Ex-integrante da seleção brasileira que ficou conhecida como "geração de prata", ele aceitou jogar por até R$ 1.000 por mês para impedir que a Sociedade Ginástica acabasse em Novo Hamburgo.
A seguir, trechos da entrevista, concedida à Folha, por telefone.
*
Folha - Você vem recebendo um salário que oscila entre R$ 1.000 e R$ 2.000. Por que, já que é considerado um dos melhores levantadores do país?
Paulo Roese - Só voltei a jogar porque achei que se parasse de fazer isso o vôlei poderia morrer em Novo Hamburgo. Todos na cidade respiram vôlei. Eu nasci aqui. Passaria o resto da minha vida frustrado se não tentasse ajudar o time a sair da crise.
Folha - A que você atribui o fim do patrocínio para o time?
Paulo Roese - Acho que isso aconteceu porque não existe uma lei específica por parte do governo que dê incentivo ao esporte.
Folha - Qual a solução que a sua equipe buscou para não acabar?
Paulo Roese - Nós fizemos uma reunião e dissemos: "Não vamos deixar que o time acabe". Aí, saímos atrás de empresários locais e conseguimos arrumar o dinheiro para o pagamento dos jogadores e da comissão técnica.
Folha - É verdade que a folha de pagamento atinge só R$ 20 mil?
Paulo Roese - É isso mesmo. Dividimos o dinheiro entre 17 pessoas. Os juvenis ganham uma ajuda de custo e alguns, como eu, às vezes recebem entre R$ 1.000 e R$ 2.000. Mas todos sabem quanto ganha cada um.
Folha - Na sua fase áurea, quanto você recebia por mês?
Paulo Roese - Acho que não vem ao caso falar. Mas era bem mais do que agora.
Folha - Como você faz para manter o seu padrão de vida?
Paulo Roese - Estou trabalhando na fábrica de calçados da família da minha mulher. Agradeço por ter essa oportunidade, pois estou aprendendo outra profissão.
Folha - O que você faz lá?
Paulo Roese - Seleciono o material para a fabricação de bolsas, sapatos e cintos.
Folha - Como você faz para treinar?
Paulo Roese - Entro na fábrica às 8h e saio às 10h30 para o treino. Mas faço um treino físico mentiroso. Depois, vou para casa, almoço e volto para o trabalho. No fim da tarde treino de novo. Mas não estou gostando muito disso. Estou fazendo mal as duas coisas e isso, para mim, é muito ruim.

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