São Paulo, sábado, 19 de outubro de 1996
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Moraes Moreira persegue a integração

PEDRO ALEXANDRE SANCHES
ENVIADO ESPECIAL AO RIO

Saído para a fama de uma comunidade hippie que vivia reunida num sítio -os Novos Baianos-, o baiano Moraes Moreira lança mais um disco, um quarto de século depois, perseguindo ainda a integração.
"Estados" é, como seus antecessores -"O Brasil Tem Con&erto" (94) e "Acústico" (95)-, um disco de projeto, e o projeto agora é a desregionalização.
"Queria acabar com essa babaquice de compartimentar as coisas, esse provincianismo que vivemos", explica. "Queria acabar com os limites, com as fronteiras."
Moraes não exime sua Bahia de tal provincianismo. "Procuro ser rebelde, questionar a Bahia. Ela também me questiona, dizem lá que sou estrangeiro."
"Questiono quando vejo o Carnaval de lá virar condomínio na via pública, perder seu caráter popular, ou quando vejo preto só segurando corda na festa. Vejo Antônio Carlos Magalhães dizer a Dorival Caymmi que baiano pela metade não existe -só um idiota pode pensar algo assim", critica.
O objetivo integrador é levado a cabo pela mistura: o CD tem ciranda, frevo, jongo, toada caipira, Carnaval, trio elétrico e até os modernos jungle e mangue beat.
A batida das discotecas londrinas ele enxertou em " Aroldo Jungle". "Fui usar o ritmo dançante e achei nele o frevo", diz.
Mas não perde o olho da tradição. Em "Brasileiro Jazz", homenageia "compositores com instrumentos no sobrenome" -Paulinho da Viola, Nelson Cavaquinho, Jacob do Bandolim, Jackson do Pandeiro.
Não perde, também, o olho da própria tradição. Os ventos dos velhos Novos Baianos sopra em "Felicidade no Ar", com letra do parceiro de grupo Galvão, com quem anda estremecido -o motivo, como sempre, é o eterno vaivém de uma possível volta da banda.
No posto de Novo Baiano mais bem-sucedido (os demais -Galvão, Baby Consuelo, Paulinho Boca de Cantor- seguem carreiras erráticas), costuma dar o "não" final a cada nova possível reunião.
Já se disse que sua posição mais confortável na mídia seria o fator determinante do embaço. "Arriscaria minha estabilidade por uma volta", responde. "Tenho recaídas terríveis de Novos Baianos."
Reconhece que não será fácil. "Seria necessário cada um abrir mão da sua carreira, até da vida pessoal. Teríamos que ficar juntos, brincando, fumando baseado, jogando bola. Mas tenho certeza que funcionaria", finaliza.

O jornalista Pedro Alexandre Sanches viajou a convite da gravadora Virgin.

Disco: Estados
Artista: Moraes Moreira
Quanto: R$ 18, em média

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