São Paulo, sábado, 19 de outubro de 1996
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Marisa Monte lança CD duplo e vídeo em sua "viagem musical"

MARCOS AUGUSTO GONÇALVES
EDITOR DE DOMINGO

Feliz o país que, tendo uma Gal Costa em soberba maturidade, pode acompanhar a explosão luminosa de uma cantora como Marisa Monte, que lança "Barulhinho Bom", uma "viagem musical", como convida o subtítulo, na forma de dois CDs e um home video.
Viagem para ser feita sem cinto de segurança, conduzida por um canto cada vez mais seguro, límpido, envolvente, e por uma produção musical, pilotada por Arto Lindsay, que decola e voa em céu azul, cor-de-rosa e carvão.
Viagem, também, concebida pela inteligência de uma seleção de repertório pouco comum entre intérpretes. Não só pela qualidade, mas pelas revelações e pelo sentido de intervenção e comentário na recuperação oportuna de antigas canções.
No caso, o avião é uma beleza.
"O repertório para mim é tudo. Comparando com cinema, é o meu roteiro", diz Marisa.
Zéfiro
No filme de "Barulhinho bom", são 18 músicas -dez delas gravadas pela primeira vez- divididas entre um CD de estúdio e outro ao vivo, gravado no teatro Guararapes, em Recife, e no Carlos Gomes, no Rio.
O home video, com 50 minutos, traz mais 8 canções que não constam dos CDs, num total de 26. Foi dirigido por Lula Buarque e Claudio Torres, da premiada Conspiração Filmes.
A história é brasileira, mesmo quando falada em inglês, e a primeira visão, antes do som, é a de um "clássico" do pop nacional: o pacote vem embalado com desenhos extraídos da obra infindável de Carlos Zéfiro, que marcou o imaginário de gerações, com suas revistas "underground" de sexo explícito.
Revistinhas para adolescentes pré-sexo industrial e eletrônico, vendidas clandestinamente em bancas de jornal, que passavam de mão em mão.
Apesar da circulação no circuito masculino, muitas vezes foram parar em mãos femininas. Uma delas, a de Marisa: "Não lembro como chegou a mim, mas vi quando ainda era garota, devia ter uns 15 anos."
A escolha de Zéfiro faz parte desse movimento, sempre presente no trabalho da cantora, de pinçar referências dos arredores de sua geração -ela está com 29 anos. "É importante mostrar o que foi feito, mostrar que muitas coisas que são pensadas hoje, na verdade, já haviam sido antes."
Novas antigas
Em "Barulhinho Bom", esse lado "back to the future" é exemplar na recuperação de "Cérebro Eletrônico" (no CD de estúdio), de Gilberto Gil.
Composta no final dos 60, na cela de uma cadeia (Gil e Caetano Veloso foram presos e obrigados a deixar o país), a música ganha atualidade e novos significados nesse tempo de bits e Internets.
"Cérebro eletrônico" é o nome dado antigamente aos ancestrais dos eletrodomésticos hoje conhecidos como computador, micro, notebook: "O cérebro eletrônico faz tudo/ Faz quase tudo/ Mas ele é mudo/ Só eu posso pensar se Deus existe/ Só eu posso chorar quando estou triste".
Também do mundo tropicalista, Marisa grava "Panis et Circenses" (no CD ao vivo), da dupla Caetano e Gil. Aventura temerária, pela qualidade do original, com Rita e os Mutantes, mas que sai melhor do que encomenda.
Ainda estão nas gravações ao vivo, entre outras mais recentes como "Beija Eu" (Marisa Monte/Arnaldo Antunes/Arto Lindsay), as "antigas" "De Noite na Cama" (Caetano Veloso), "Dança da Solidão" (Paulinho da Viola), "O Xote das Meninas" (Zé Dantas e Luiz Gonzaga), "Give me Love" (George Harrison) e "A Menina Dança" (Galvão, Novos Baianos).
"O CD ao vivo é um presente para os fãs. Para aquelas pessoas que curtem show e levam gravador para registrar", oferece Marisa.

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