São Paulo, sábado, 19 de outubro de 1996 |
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Novo filme recria mito do pioneirismo
AMIR LABAKI
O Instituto Goethe teme não conseguir cópias apenas de "Paris, Texas" e "Hammett". Seriam dois desfalques e tanto. A principal atração cinematográfica será mesmo a estréia brasileira de seu mais recente filme, lançado no Festival de Veneza deste ano ainda dentro das celebrações do centenário do cinema. "Os Irmãos Skladanowsky" é um misto de documentário e ficção desenvolvido pelo diretor de "Asas do Desejo" (1987) em sua nova faceta de professor. Alunos Há dois anos, em Cannes, Wim Wenders adiantava à Folha seu projeto: "Estou finalizando um curta-metragem que fiz com alunos da escola de cinema de Munique, onde me formei. É uma comédia tipo pastelão dedicada aos pioneiros alemães do cinema, os irmãos Skladanowsky". O curta original foi lançado na Alemanha como acompanhamento de "O Céu de Lisboa". Fez sucesso e inspirou dois outros curtas. Os três pequenos filmes acabaram sendo remontados para dar origem a este documentário ficcionalizado, "Os Irmãos Skladanowsky". A primeira parte reencena a história dos irmãos Max, Emil e Eugene, através dos olhos da pequena Gertrud, filha do primeiro, o verdadeiro inventor do clã -interpretado, no filme, pelo ator Udo Kier. A metade final do filme ilustra uma rica entrevista da irmã de Gertrud, Lucie Hurtgen-Skladanowsky, 92, com trechos ficcionais que principalmente remontam o célebre programa de nove filmetos lançados no Wintergarten berlinense. Enfoque original Wenders e alunos mantiveram-se fiéis ao enfoque original, assim resumido por ele à Folha: "Eles não tinha muita cultura, vieram do circo, mas fizeram a primeira sessão de cinema para o público, mais de um mês antes da projeção de dezembro de 1895 louvada pelos franceses. Não eram bons técnicos, trabalharam com o bioscópio, que era uma câmera atrasada com duas lentes, bastante inferior à desenvolvida pelos Lumière". O problema é que o filme acaba por insistir várias vezes no polêmico pioneirismo, tornando os Skladanowsky como que heróis injustiçados, literalmente acossados por espiões. Ressuscita-se, assim, uma tese ultrapassada, muito cara à propaganda nazista, como lembrou em palestra na Sala Cinemateca, no ano passado, o insuspeito historiador alemão Walter Schobert. Para além de sua aparente leveza, eis um filme a se ver com cuidado. Texto Anterior: Professor Flávio Kothe dá palestras na USP; Clube Português promove colóquio Próximo Texto: Abujamra enfrenta o novo em 'O Professor' Índice |
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