São Paulo, sábado, 19 de outubro de 1996
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Nicarágua decide se volta ao sandinismo

DAS AGÊNCIAS INTERNACIONAIS

A Nicarágua elege amanhã, de olho no passado, um novo presidente, após uma campanha que se tornou uma espécie de julgamento do regime sandinista.
O esquerdista Daniel Ortega, que liderou o governo marxista do país entre 1979 e 1990, está praticamente empatado com o advogado direitista Arnoldo Alemán, ex-prefeito de Manágua.
Ortega diz que a volta do sandinismo, representada por sua vitória, não traz uma ameaça externa para o país. A lembrança se justifica porque a Nicarágua, durante o governo Ortega, sofreu no campo externo duras represálias dos Estados Unidos e, no interno, a guerrilha dos "contras" (financiados pelos americanos).
O principal mote de campanha da Frente Sandinista de Libertação Nacional é mostrar que Ortega tratará a Casa Branca como aliada, em um eventual novo governo.
A mais polêmica peça eleitoral é um comercial de televisão em que o líder sandinista aparece abraçando o deputado democrata Bill Richardson e diz: "Sou amigo dos Estados Unidos".
Os EUA se indignaram com a propaganda e exigiram que ela fosse retirada. "O propósito foi fortalecer o ponto de vista das boas relações que queremos ter com eles", justificou Tomás Borge, dirigente da campanha sandinista.
O Departamento de Estado já disse que vai respeitar uma eventual vitória de Ortega, mas seu porta-voz, Nicholas Burns, deixa clara a preferência americana por Alemán -segundo ele, os EUA não consideram Ortega um democrata e não estão dispostos a esquecer seu governo, caracterizado pela nacionalização de bancos e centralização da economia na mão do Estado (leia texto ao lado).
As últimas pesquisa divulgadas mostram empate técnico, com um ou outro candidato à frente.
A mais favorável ao Partido Liberal, de Alemán, é a da empresa Borge y Asociados (46% x 39%), a única a prever a vitória de Violeta Chamorro contra o mesmo Ortega, há seis anos.
A Cid Gallup também favorece Alemán (40,5% x 37,9%), mas prevê segundo turno. Outra empresa, a Doxa, dá a vitória a Ortega, com 41% a 39% -esta pesquisa foi contratada pelo jornal "Barricada", porta-voz sandinista. Finalmente, Ortega vence também segundo o Centro de Investigaciones de la Comunicación (36,7% x 33,9%).
A lei eleitoral prevê segundo turno a não ser que algum candidato alcance 45% dos votos válidos.
Alemán foi mais agressivo no final da campanha. Disse que Ortega "não mudou e continua sendo um ditador". "Ele pode afinar os bigodes, usar roupas brancas, por seus óculos escuros comprados em Nova York, mas continua sendo um ditador."
O sandinista ficou na defensiva, prometendo que "nunca mais derramaremos o sangue de nossos irmãos" e lembrando que, nos primeiros anos do sandinismo, o Estado fornecia comida de graça.
A presidente Violeta Chamorro também se envolveu. Na semana passada, o jornal de sua família, "La Prensa", divulgou um suposto "Plano Sombra", pelo qual os ex-guerrilheiros sandinistas controlariam totalmente o governo, descartando alianças.
Chamorro também pediu que Ortega devolva a mansão em que mora, confiscada durante o sandinismo e reclamada pelo banqueiro Jaime Morales Carazo, chefe da campanha de Alemán.
Mas Alemán também lançou ataques a Chamorro, dizendo que os abusos do governo dela foram maiores que os de Ortega. Prometeu, se eleito, criar uma Comissão de Verdade, para investigar abusos das gestões anteriores.

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