São Paulo, domingo, 20 de outubro de 1996
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Iguais, mas diferentes

JANIO DE FREITAS

Há sempre escândalo quando é descoberta a proteção dada por policiais a traficantes e outros bandidos, mas os autores de grandes falcatruas em bancos e seus possíveis coadjuvantes oficiais estão sendo protegidos por deputados -e não há escândalo, não há qualquer providência, nem ao menos há alguma cobrança.
As investigações policiais no caso do Banco Nacional, embora incompletas, já são suficientes para dar razão ao questionamento a que o Banco Central esteve submetido, quando começou a gastar bilhões em socorro de rombos e arrombadores que devia ter identificado e punido logo de saída.
Os questionamentos ficaram sem resposta. O caso do Nacional entrelaçou de tal maneira a Presidência da República e o Banco Central, que nada seria examinado em torno das pretensas fiscalizações e de outros procedimentos, não menos estranháveis, do BC com alguns bancos e respectivos banqueiros.
A Polícia Federal, por sua vez, tem suas investigações limitadas a práticas criminosas que tenham havido na atividade do Nacional. O que então aparece em relação ao Banco Central são evidências ou indícios que, seja qual o for o seu interesse, não estendem as investigações ao BC.
Com o Banco Central comprometido e a Polícia Federal restringida, só uma CPI poderia desenvolver investigações abrangendo todas as partes e aspectos, presentes e passados, do mundo obscuro de onde emergiram, de repente, os casos do Nacional e do Econômico. Por isso foi requerida na Câmara a CPI dos Bancos.
Quando o deputado Milton Temer começou a recolher assinaturas para o requerimento, o Banco Central havia posto os famosos R$ 6,5 bilhões para socorrer o Nacional e seus proprietários da iminente falência fraudulenta. Sob o rótulo do tal programa de recuperação (Proer) criado para o caso do Nacional, o gasto do BC com bancos ou banqueiros já anda pelos R$ 14 bilhões.
A meio da semana, veio a público a existência de muito mais fraudes e fraudadores, no Nacional, do que foi divulgado pelo Banco Central na época da sua intervenção multibilionária. E as investigações policiais obtiveram indícios de que a falcatrua no Nacional ocorria há muito mais tempo do que o dito pelos dirigentes do BC e, como seria lógico, com o envolvimento do BC. Duração, talvez, de uns dez anos.
Mas a CPI não é instalada. Também nesta semana, quarta-feira, mais uma vez a CPI dos Bancos entrou na pauta da Comissão de Finanças. Mais uma vez, os deputados governistas impediram, com sua ausência, que a pauta fosse cumprida. São quase 50 sessões, já, em que agem assim.
Desde a sexta sessão boicotada, a Mesa Diretora da Câmara deveria ter punido os deputados governistas. Mas a Mesa é presidida pelo pefelista Luís Eduardo Magalhães, que vela mais pelos desejos de Fernando Henrique Cardoso do que o próprio Fernando Henrique Cardoso. E Fernando Henrique Cardoso é um dos que não querem uma CPI que pode revelar muitas das coisas que fazem o Banco Central ser chamado de "a caixa preta do governo".
Pois é, policiais protetores não têm imunidade, mas deputados protetores têm -e olha aí uma diferença, para não se dizer que são cupins da mesma madeira.

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