São Paulo, domingo, 20 de outubro de 1996
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Em SP, cresce número de candidatas, mas mulheres recebem menos votos

JOSÉ ROBERTO DE TOLEDO
DA REPORTAGEM LOCAL

As cotas para mulheres nas eleições proporcionais funcionaram apenas formalmente: os partidos ganharam feições mais femininas, mas a participação política efetiva das mulheres aumentou pouco por causa da lei em São Paulo.
A exigência legal de que ao menos 20% das vagas das chapas de vereador fossem reservadas a mulheres fez dobrar o número de candidatas na cidade. Mas o percentual de votos recebidos por elas ficou quase igual ao da eleição de 92.
Naquele ano, só 10,3% dos candidatos a vereador eram do sexo feminino. Somadas, receberam 184 mil votos, o equivalente a 7,3% da votação de todos os candidatos.
Nesta eleição, já sob a vigência da nova legislação, a fatia da chapa de candidatos a vereador ocupada pelas mulheres chegou a 23%.
Infelizmente para elas, sua votação não cresceu na mesma proporção. Pelo contrário: ficou em 8,7% do total de votos nominais. Um avanço de apenas 20%. Em outras palavras, a média de votos por candidata diminuiu.
A análise desses números deverá ser levada em conta na discussão de um novo projeto polêmico da deputada Marta Suplicy (PT-SP).
Esta semana, poderá entrar em votação na Comissão de Constituição e Justiça da Câmara sua proposta que institui a cota mínima de 30% de mulheres nas chapas de candidatos a deputado federal e estadual na eleição de 98.
Presidente da CCJ, o deputado Aloysio Nunes Ferreira (PMDB-SP) acredita na aprovação do projeto, ao menos na comissão: "Durante os comícios, nessas eleições, sempre que eu falava da mudança na lei a platéia aplaudia".
No plenário, porém, a conversa pode ser diferente. A obrigatoriedade de que quase 1/3 da chapa seja preenchido com mulheres implicará a perda de lugar de vários homens. Em proveito próprio, deputados poderão votar contra.
As objeções não param aí. Partidos que têm poucas mulheres militantes tendem a sair prejudicados, porque abrirão mão de candidatos com votos para colocar "laranjas" só para cumprir a lei.
É o que ocorreu este ano na eleição paulistana. Em 92, o PPB tinha tido só 7,6% de mulheres na chapa de candidatos a vereador, que receberam 2,6% dos votos nominais em candidatos do partido.
Em 3 de outubro, a participação feminina chegou a 25% da chapa, mas essas candidatas só receberam 3,6% dos votos. Resultado: a eficiência, medida pela divisão do percentual de votos pelo de candidatas, caiu de 35% para 14%.
Os defensores das cotas usam esse fato em seu favor. É um incentivo para que os partidos se preocupem em formar militantes com reais chances eleitorais.
"Todos os partidos usaram laranjas, inclusive o PT. Era preferível ter deixado em descoberto a cota", diz Marta Suplicy.

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