São Paulo, domingo, 20 de outubro de 1996
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Favelização avança no litoral norte de SP

VICTOR AGOSTINHO
ENVIADO ESPECIAL A S. SEBASTIÃO (SP)

O litoral norte de São Paulo, conhecido por suas belas praias, pelas casas que superam facilmente a cifra de R$ 1 milhão e por reunir, a cada verão, a nata da sociedade paulistana, está passando por um processo rápido de "favelização".
Praias como Juqueí, Maresias, Barra do Sahy, Toque-toque e Boiçucanga hoje têm favelas para nenhuma metrópole brasileira botar defeito.
A velocidade de crescimento dessas favelas é assustadora: enquanto a cidade de São Sebastião, onde se localizam essas praias, apresenta um crescimento anual de 5,4%, favelas mostram aumento de três dígitos por ano.
A favela de Boiçucanga cresce 139% ao ano. A de Maresias, 100%. A de Itatinga, no centro, 70%. As de Barra do Sahy e Juqueí crescem menos -5% ao ano-, segundo a Defesa Civil Municipal.
Para o secretário de Planejamento de São Sebastião, Flávio Malta, os dados são "impressionantes".
Os barracos -alguns de madeira, outros de alvenaria- não contam com infra-estrutura de esgoto, água encanada ou energia elétrica. No caso da água e da eletricidade, são improvisadas gambiarras.
Quanto ao esgoto, é lançado diretamente nas vielas, onde as crianças brincam na lama contaminada.
Razões
O ponto de partida dessa situação foi o "boom" imobiliário, que jogou os mais pobres para perto da serra do Mar, mais longe da praia.
A possibilidade de emprego sazonal, tanto na construção civil como nas pousadas e no comércio, e a falta de repressão para invasões de terrenos públicos e privados também estão na lista dos atrativos da região para os favelados.
A falta, ainda, de projetos habitacionais, estadual ou municipal, contribui para a proliferação dos barracos. O déficit habitacional na cidade é hoje de 2.500 casas.
A secretária da Promoção Social de São Sebastião, Vera Lúcia Ferreira Alonso, afirma que, dos cerca de 4.500 favelados, 66% não têm emprego fixo. "Apenas 34% deles trabalham como caseiros e no comércio. O resto faz bicos."
O presidente da Somar (Sociedade Amigos de Maresias), Alexandre Birmoser, acusa a prefeitura de omissão por deixar mais favelados se instalarem no município e afirma que as invasões de terrenos e a violência "estão prejudicando tremendamente os negócios".
"Sinto muito, não dá para colocar todo mundo num caminhão e despachar para o Nordeste. A Constituição assegura a eles o direito de ir e vir", rebate a secretária da Promoção Social.
"Se as favelas continuarem largadas do jeito que estão, vamos ter uma situação caótica em pouco tempo. O banditismo está crescendo violentamente", diz Birmoser.
A entidade doou alojamento para oito soldados e dois oficiais da Polícia Militar, já reformou um carro de polícia e está recondicionando um segundo para o policiamento da praia.
"Não percebi o aumento nas favelas, mas este ano já notei muito mais gente na praia. Pedi para o condomínio reforçar a segurança. O maior problema é o desemprego desse pessoal. Fico preocupada com isso", afirma Cristiana Arcangelli, presidente da Phytoervas, que tem casa em Maresias.

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