São Paulo, domingo, 20 de outubro de 1996
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"Clones" aborrecem amigas íntimas

PAULO SAMPAIO
DA REPORTAGEM LOCAL

Resolver com que roupa ir à festa nunca foi um dilema para essas mulheres: elas vão sempre com um modelo igual ao da amiga.
Imitam também o jeito de falar dessa amiga, o de andar e o corte do cabelo. Muitas assimilam até vícios como roer a unha.
"Não imito uma só, imito várias", diz a professora de educação física Lúcia de Almeida, 33. "Volta e meia me fixo em alguém."
Lúcia lembra que, desde a adolescência, já sofria dessa "compulsão". "Cheguei a colocar papel laminado nos dentes, para fingir que estava usando aparelho."
Até pouco tempo, ela se forçou a roer as unhas. "Copiava uma amiga que roía até o sabugo", conta. "Achava o máximo aqueles dedos batatudos na ponta."
"Fofis"
Sentir-se imitada é algo que muitas vezes incomoda a assistente social Sandra Pereira, 25. "Quando a coisa fica muito flagrante, denuncio", afirma.
Sandra reclama para si a autoria de algumas expressões usadas por sua amiga Ivana Billa, 26.
"Sempre falei 'fofis', por exemplo, quando queria dizer que algo era fofo", conta.
"Ela copiou isso e também a expressão 'o lindinho', que eu falava quando achava o cara uma gracinha", diz. "Não uso mais nenhuma das duas."
Ivana diz que considera Sandra sua "irmã". "Tenho uma grande admiração por ela", diz. "A Sandra é um exemplo de vida".
Quanto às expressões que teria assimilado do vocabulário da amiga, Ivana confirma.
"A convivência faz a gente pegar uma porção de coisas da outra", diz. "A Sandra tem mania de falar no diminutivo, por exemplo, e eu acho meigo. Acabo fazendo igual."
Nariz de Malu Mader
Sandra também tem suas fãs. Considera-se parecidíssima com Malu Mader, por exemplo. Para ficar mais ainda, fez plástica.
"Levei uma foto da Malu e pedi ao médico que fizesse o nariz igual ao dela", diz. "Ele me operou duas vezes, até acertar."
Ela acredita que sua semelhança com Malu Mader vai além da aparência. "Me pego falando como ela, jogando o cabelo, impressionante", diz. "É a mesma energia."
A energia da empresária Isabella Brandão, 27, "foi todinha" com uma antiga sócia. "Passei três meses internada e oito em depressão", lembra.
Isabella diz que a ex-sócia a perseguia. "Ela me copiava de uma maneira doentia. As jóias, o cabelo, as roupas, tudo que o dinheiro podia comprar ela queria igual."
As duas se conheceram em um spa. "Desde o início ela colocou olho gordo em mim", lembra Isabella. (leia depoimento ao lado)
Sem medo nem vergonha de copiar a amiga, uma ex-colega de trabalho da produtora de moda Aline Lima, 28, chegava a avisar: "Vou comprar igual."
Aline, que se considera uma pessoa muito extrovertida, sempre se arrependia de dizer sua opinião em frente as vitrines.
"Ela era mais rica e comprava no ato tudo o que eu dizia que era o máximo", lembra.
Apesar do empenho, a amiga de Aline não conseguia bons resultados. "Ela não tem estilo, coitada, comprava tudo e não sabia usar."
Um dia Aline ganhou do namorado um relógio cujo mostrador era o anão "Dunga" e os ponteiros, os braços dele.
"Minha amiga disse que queria um igual, mas eu combinei com meu namorado de mentir que ele mandou buscar fora do Brasil."
Foi pior. "No dia seguinte, o relógio amanheceu parado."

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