São Paulo, domingo, 20 de outubro de 1996
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Cidade 'devolve' dez famílias por semana

VICTOR AGOSTINHO
DO ENVIADO ESPECIAL

A Prefeitura de São Sebastião afirma que realiza um trabalho permanente para tentar convencer os favelados a voltar para suas cidades de origem.
Quem aceitar, recebe passagem gratuitamente. Por ano, são "devolvidas" dez famílias -número pequeno perto do que chega semanalmente ao município.
"Enquanto nós damos passagem para dez famílias, toda semana chega do Nordeste um ônibus da Itapemirim lotado. São Sebastião é um local que atrai muita gente. Os comerciantes acabam explorando, por salários bem baixos, essa mão-de-obra desqualificada", afirma Vera Lúcia Ferreira Alonso, secretária da Promoção Social.
Segundo Alonso, "a população favelada é ou foi empregada dos veranistas". "Não é justo que agora os veranistas reclamem e queiram expulsar os favelados."
Levantamento da prefeitura mostra que o atual fluxo migratório para São Sebastião vem do norte de Minas e do sul da Bahia: "Belo Oriente, Teófilo Otoni, Pavão, Americaninha... São sempre das mesmas cidades", diz a secretária.
Maria de Lurdes Silva, 59, confirma os dados da prefeitura. Há três meses ela está vivendo em um barraco com a filha, o genro e oito netos. Veio do sul da Bahia. Não sabe ainda se vai ficar com eles.
Os Silvas são considerados uns felizardos, levando-se em conta a situação geral de desemprego na Vila Baiana (barra do Sahy). O genro de Maria de Lurdes está atualmente trabalhando como pedreiro e a filha, como caseira.
"Se der saudade da Bahia, eu volto. São só dois dias e meio de viagem. Mas acho que vou ficar. Aqui é frio, é bom", disse.
Ela não gosta muito da idéia de o esgoto do barraco da filha ser lançado diretamente no morro. "Mas é o que dá para fazer, todo mundo faz, pode ver."

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