São Paulo, domingo, 20 de outubro de 1996
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Só a Bolsa bate fundos de dívida externa

MILTON GAMEZ
DA REPORTAGEM LOCAL

Os títulos da dívida externa do Brasil sempre foram bom investimento para os especuladores estrangeiros. Nos últimos meses, provaram-se também excelente aplicação para investidores brasileiros.
Os fundos de investimento no exterior -que aplicam 60% de seu patrimônio em papéis da dívida brasileira, chamados de "bradies"- estão dando um show de rentabilidade neste ano. Perdem apenas para as Bolsas de Valores no ranking dos investimentos.
A rentabilidade nominal desses fundos, batizados de Fiex, chegou a alcançar 45,47% até o último dia 14 -caso do fundo BBA-III Exterior, do Banco BBA Creditanstalt.
O Real Fiex, o menos rentável dos 18 Fiex existentes desde o início do ano rendeu, até o dia 14, 21,48%. Em média, esses fundos acumulavam valorização nominal de 29,33% até o último dia 17, segundo a Anbid (associação dos bancos de investimento do país).
No período, os fundos tradicionais de renda fixa (os FIF de 60 dias) renderam 20,45%, em média.
Vários motivos explicam a excelente valorização dos Fiex. Marcus Vinicius Gonçalves, analista do Bradesco, lembra que o risco do país, na visão dos investidores internacionais, diminuiu muito após o susto da crise cambial mexicana.
Na época, o Brasil torrou US$ 10 bilhões de suas reservas internacionais e manteve o Real de pé, dando força aos papéis da dívida.
"Creio que a valorização dos 'bradies' brasileiros tende a continuar. O país está ganhando confiança lá fora e prepara-se para uma emissão gigante de um novo bônus de US$ 750 milhões. Se ele vier com taxas de juro menores, como se espera, os 'bradies' serão valorizados mais um pouco", afirma o analista do Bradesco.
Renato Raglione, diretor de produtos do Unibanco Asset Managment, também é otimista. Tanto que, há cerca de um mês, o Unibanco baixou de R$ 20 mil para R$ 2 mil a aplicação mínima em seu Fiex, segundo mais rentável até agora, com 44,14% no ano.
"O Fiex pode ficar mais interessante no futuro, à medida que os juros caiam mais. Eles são ideais para quem não quer o risco das Bolsas, mas está disposto a correr mais riscos na renda fixa", diz.
Ele acha que o potencial de valorização dos "bradies" brasileiros não está esgotado. O programa de reestruturação da dívida externa, com o lançamento de novos bônus a juros menores, tende a valorizar mais os "bradies" existentes.
Para ajustar o investimento a um risco-Brasil menor, os investidores sobem o preço de venda dos "bradies", cortando os deságios.
"A economia dos EUA está se aquecendo demais e os juros podem subir por lá nos próximos meses, o que derrubaria os preços dos 'bradies"'.

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