São Paulo, domingo, 20 de outubro de 1996
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Corinthians entra em campo como favorito

ALBERTO HELENA JR.
DA EQUIPE DE ARTICULISTAS

Mesmo desfalcado, o São Paulo que entra esta noite em campo é melhor do que o Corinthians. Pelo menos, dispõe de atacantes mais talentosos. Acontece que, em futebol, sobretudo em clássicos como esse, muitas vezes, a superioridade se expressa mais pela força anímica do que pelo talento.
E nesse sentido é o Corinthians que entra em campo como favorito. Claro, pois se o tricolor insiste em abrir mão de toda a sua potencialidade ofensiva, barrando um atacante do porte de Aristizábal (ou Valdir) para manter três médios defensivos, o técnico corintiano, diante da indigência do seu elenco, prefere transformar em meia um atacante nato como Jorginho.
Pode não dar certo; mas dá mais ânimo, ao menos.
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Toca o telefone, é uma jornalista argentina que está fazendo reportagem para a revista "La Rota" sobre a "ronaldomania", que, segundo ela, está tomando conta do mundo. Quer saber o que acho da comparação de Ronaldinho com Pelé.
Respondo de pronto: Pelé é incomparável. E vou fundo: nem Di Stefano nem Sívori nem Maradona, muito menos Ronaldinho, podem se equiparar a Pelé, que vi jogar desde seus primeiros passos no Santos até encerrar a mais brilhante carreira de todos os séculos lá no Cosmos.
Pelé, como jogador de futebol, raiou à perfeição. Talvez não tenha inventado nenhuma nova jogada, como alguns de seus ilustres antecessores -a não ser a tabelinha na perna do adversário-, mas executou-as todas com precisão, eficiência e elegância.
Mas que Ronaldinho ainda vai incomodar a postura olímpica do nosso deus do futebol, ah, isso vai.
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Para completar o endeusamento do nosso menino Ronaldo, basta dizer que aquele terceiro gol contra a Lituânia, se não é comparável aos de Pelé, foi coisa de Garrincha. Pior que foi.
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Zagallo diz que não gostou de Djalminha como o seu número 1. E, foi além: da mesma forma que já não havia aprovado Giovanni. Ouvi bem? Não gostou de Giovanni fazendo o papel de meia de ligação, aproximando-se da área inimiga e tal e coisa?
Já estou começando a não só desgostar desse tal número 1 como do próprio Zagallo.
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Que tal Zagallo preocupar-se com a disposição tática da defesa, que, mais uma vez, se abriu qual flor na primavera aos assédios da seleção reserva de um futebol de quinta categoria, que saiu de um frio de 4 graus para mergulhar no caldeirão fervente de Teresina e ainda assim nos deu arrepios?
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É, no mínimo, ingenuidade, para não dizer desconhecimento absoluto da história dos homens, supor que os cartolas entregariam os anéis sem feroz disputa nos tribunais.
Mas, numa democracia, é assim mesmo que as coisas funcionam. Por isso, em recente pesquisa deu que apenas metade da nossa população é a favor do sistema democrático. A turma é mesmo chegada a um manso atalho. Como diz o ditado: só vê as pingas que bebo, mas não conta os tombos que levo.

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