São Paulo, domingo, 20 de outubro de 1996
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Condenado por assassinato na Rússia vira escritor de sucesso

El País
de Madri

PILAR BONET
EM MOSCOU

Ievgueni Monakh, condenado por assassinato que escreve sobre o mundo criminoso russo, é produto de seu país e de sua época.
Teve infância em boa família, mas ficou dez anos preso por vários crimes -até homicídio doloso. Ele afirma que escrever o ajuda a se livrar do passado criminoso.
Indultado pelo presidente Boris Ieltsin em 1994, Monakh goza de liberdade condicional.
Monakh escolheu como local para o nosso encontro a redação da revista literária "Ural", em que publicou seu primeiro texto ("Olhou o Mundo com Olhos de Lobo"), em 1994, e, mais tarde, suas novelas "O Vencedor Herda Tudo" e "Passatempo Chinês".
Monakh mantém a mão esquerda no bolso. Ou melhor, o que resta dela, pois "foi arrancada quando fazia uma bomba-relógio".
O autor retrata em tom "antipolicial" o mundo da máfia. Os protagonistas são os delinquentes, e o conflito se dá entre gangues rivais pelo controle de um negócio.
Monakh se inspira na vida real, relata suas peripécias na primeira pessoa, mas não quer voltar àquele mundo. "Tenho 26 ferimentos no corpo. Tentaram me matar várias vezes, e, se estou vivo, é por puro acaso. Assim, prefiro viver minhas aventuras nos livros."
Neles, as quadrilhas dividem os "impostos" cobrados de bancas de jornais e casas noturnas, lutam pelo domínio das zonas de influência na cidade, mantêm prostitutas e se iniciam nos negócios de striptease, cassinos e ópio.
Monakh diz que hoje não é possível desenvolver nenhuma atividade econômica na Rússia sem contar com uma proteção mafiosa.
Mas acha que os grupos criminosos atuais não conhecem as leis da bandidagem. "Na minha época, os ex-combatentes da guerra do Afeganistão voltaram transformados em feras. Agora vamos observar a influência da Tchetchênia."

Tradução de Clara Allain

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