São Paulo, domingo, 20 de outubro de 1996
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Desconforto; Habitação; Bebidas na TV; Omissão; Excesso de correção; Reflexão sobre a ausência; Impropriedade

Desconforto
"Gostaria de declarar meu desconforto pela forma como a Folha vem tratando os depoimentos na Comissão Especial da Câmara que analisa o projeto de lei da deputada Marta Suplicy sobre a união civil de pessoas do mesmo sexo.
Apesar dos insistentes esforços da deputada, fazendo ver que não se trata de 'casamento', o termo aparece com destaque nas reportagens produzidas.
Suponho que, assim, seja mais fácil 'vender a notícia', mas, de qualquer maneira, não me parece eticamente correto. Particularmente, sobre meu depoimento àquela comissão, outras incorreções foram cometidas ao, por exemplo, caracterizá-lo como 'polêmico'. Diferentemente, o debate se fez na mais absoluta tranquilidade democrática e a única oposição, oferecida por um deputado evangélico, ocorreu com ênfase, mas cordialidade.
O deputado não gritou em nenhum momento, contrariamente ao que afirma a reportagem publicada em 9/10."
Ricardo Balestreri, presidente da Anistia Internacional-Brasil (Porto Alegre, RS)

Habitação
"A julgar pela reportagem sobre habitação no caderno Eleições 96 (13/10), o eleitor de São Paulo não tem escolha: ambas as gestões setoriais de Erundina e Maluf foram equivalentes e ambas deficientes.
A abordagem, apesar dos excelentes recursos gráficos e fotográficos, lembra o marketing eleitoral.
Quero desfazer apenas os equívocos que me atingem pessoalmente: como em todo período pré-eleitoral, integrantes do TCM alimentam a imprensa com 'denúncias' e 'condenações' aos participantes do ex-governo de Luiza Erundina.
É preciso esclarecer que o TCM não pertence ao sistema judiciário brasileiro. Seus julgamentos são indicativos para este, para o MP ou para a Câmara.
Os convênios jurídicos aludidos na reportagem ainda estão em julgamento no TCM, sem que haja unanimidade entre seus conselheiros. Certamente prevalecerá a justiça e a legalidade, como em todas as denúncias anteriores contra nós, que foram arquivadas."
Erminia Maricato, ex-secretária da Habitação e Desenvolvimento Urbano de São Paulo (São Paulo, SP)
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"A reportagem do caderno Eleições 96 de 13/10 fez uma afirmação inverídica quando disse: 'Rompendo com a tradição dos governos anteriores de 'transferir' favelados para a periferia, Maluf escolheu projeto que melhora a qualidade das moradias, mantendo as pessoas no lugar onde estão vivendo'.
Se por um lado a administração malufista criou o Cingapura, por outro essa gestão removeu milhares de casas em favelas que se localizavam em áreas onde foram executadas obras, sobretudo para sistema viário.
Na avenida do córrego Águas Espraiadas, por exemplo, sabe-se que havia vários núcleos de favelas, totalizando cerca de 8.000 casas ou, aproximadamente, 40 mil pessoas.
Na atual administração a população favelada foi removida, utilizando-se de métodos violentos -inclusive queima de barracos- para convencimento das famílias em aceitar 'pacificamente' a proposta de indenização oferecida pela empresa contratada pela prefeitura.
Essa, sim, é a principal e tradicional maneira malufista de tratar as áreas de favela da cidade."
José Marinho Nery Jr., arquiteto, ex-coordenador de assuntos fundiários na Superintendência de Habitação Popular na gestão Luiza Erundina (São Paulo, SP)

Bebidas na TV
"Sobre a reportagem 'Anúncio de whisky quebra tradição' (15/9): no passado, a Seagram voluntariamente absteve-se de anúncios de bebidas em mídia eletrônica no mercado norte-americano. Essa iniciativa levou em conta a capacidade limitada da mídia eletrônica da época.
Outros pensam que a Seagram está retomando os anúncios na TV por estar desesperada ou em má situação. Não é o caso. Embora seja fato que o setor esteja sofrendo queda nas vendas nos últimos 10 a 15 anos na América do Norte, a Seagram tem acusado crescimento nesse mesmo período.
A principal razão de a Seagram mudar sua política sobre anúncios na TV é resultado direto das drásticas mudanças que a própria TV vem sofrendo. Hoje podemos atingir um público de uma forma que não era possível anos atrás."
Paulo Krieger, gerente-geral da Seagram do Brasil (São Paulo, SP)

Omissão
"Sou um cientista brasileiro residente nos Estados Unidos, onde trabalho como chefe da Unidade de Pesquisa Clínica da Divisão de Neuroendocrinologia Clínica do Instituto Nacional de Saúde dos Estados Unidos, em Bethesda, Maryland.
Sou também o editor da revista científica 'Molecular Psychiatry', publicada pela editora Macmillan Press, da Inglaterra. Dois artigos publicados recentemente em 'Molecular Psychiatry' foram citados em artigos da Folha.
Acho interessante que a Folha tenha publicado comentários sobre nossos artigos, mas fico desapontado por não ter havido nenhuma menção ao fato de que essa talvez seja a única revista científica internacional editada por brasileiros: eu sou o editor e sou brasileiro; a dra. Ma Li Wong, editora-assistente, também é brasileira."
Júlio Licinio, editor da "Molecular Psychiatry" (Bethesda, Maryland, Estados Unidos)

Excesso de correção
"Quero anunciar publicamente a decisão irrevogável de cancelar a minha assinatura da Folha.
De uns tempos para cá este jornal está ridiculamente 'politicamente correto'. Dá nojo ler a reportagem 'Arquiteta é morta a golpes de mármore' (27/9). Nela o assassinato confessado pelo sr. José Marcelino de Oliveira é o tempo todo tratado na condicional.
Além disso, esta Folha vem dando espaços generosos para 'pretos' e 'bichas' recalcados discutirem 'ad infinitum' trivialidades."
Raimundo Augusto Sergio Nogueira Carneiro (Rio de Janeiro, RJ)

Reflexão sobre a ausência
"Considero o artigo de Otavio Frias Filho de 10/10 uma das mais refinadas e expressivas interlocuções com o 'fenômeno' do silêncio do escritor Raduan Nassar.
É muito rica a análise feita. Traz para um plano mais agudo de reflexão o significado dessa ausência.
Stefan George diz que 'nenhuma coisa existe onde a palavra falta'; Otavio Frias Filho consegue, ao escutar o silêncio, dialogar com a falta delas."
Maria Elisa Guimarães (Belém, PA)

Impropriedade
"Sobre a foto da atleta Rosalina Tompei Kanela (edição de 17/10): permita-me encarecer a atenção para a impropriedade da tomada parcial do corpo da índia atleta, adequada talvez para revista pornográfica, jamais para a linha editorial da Folha!"
Accacio F. Santos Junior (Belo Horizonte, MG)

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