São Paulo, domingo, 20 de outubro de 1996
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Heroínas de novelas da Rede Globo carregam no merchandising social

ELAINE GUERINI
DA REPORTAGEM LOCAL

A teledramaturgia da Globo se rende ao merchandising social. As três principais novelas exibidas atualmente pela emissora apresentam núcleos que retratam setores carentes da população. O desfile dos excluídos começa com os sem-teto na faixa das 18h, passa por uma comunidade intoxicada por mineradora às 19h e termina com os sem-terra na trama das oito.
Os gêneros são diferentes, mas os três enredos contam com uma personagem feminina, uma espécie de heroína, que canaliza determinado problema social. Na trama espiritualista de "Anjo de Mim", de Walter Negrão, Viviane Pasmanter interpreta uma bóia-fria que mora em um palácio abandonado.
Uma das protagonistas da comédia "Salsa e Merengue", de Miguel Falabella e Maria Carmem Barbosa, é Madalena. A jovem tecelã (vivida por Patrícia França) convence o povo de Roseira Santa a exigir justiça: eles querem que a mineradora Amarante Paes pare de contaminar a região com urânio.
Na trama ruralista de Benedito Ruy Barbosa, "O Rei do Gado", a atriz Ana Beatriz Nogueira encarna Jacira, uma mulher sofrida que sonha em conquistar um pedaço de terra para viver em paz com o marido e o filho.
"Já foi o tempo em que o público só aceitava ver personagens nobres em uma novela", diz o autor Walter Negrão, referindo-se à rejeição que o protagonista de "Nino, o Italianinho" sofreu por ser açougueiro -a novela foi apresentada na TV Tupi, entre 1969 e 70.
"Eu e o Geraldo Vietri tivemos de tirar o personagem do açougue e colocá-lo em uma mercearia para amenizar", conta o autor. "Hoje, é diferente. O autor aproveita a trama para fazer merchandising social. Mas nem tudo é aceito. Ainda não dá para mostrar um menino que cheira cola, por exemplo."
Segundo Maria Aparecida Bacega, 53, coordenadora do núcleo de telenovela da ECA-USP, a apresentação de temas sociais nas tramas faz com que o assunto seja discutido pela sociedade. "Como o público se envolve com os personagens, a novela consegue promover o debate de uma forma privilegiada."
Para Nilce Souto, 30, coordenadora do Fórum dos Mutirões de São Paulo, o assunto não deve ser banalizado. "Preferimos quando a falta de moradia é abordada nos telejornais. Mas, como temos pouco espaço na mídia, a novela pode ajudar a mobilizar a opinião pública."
Walter Negrão reconhece a responsabilidade do autor, mas ressalta que a novela é a "hora do recreio". "Não posso fugir do gênero. Não faço discurso", diz.

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