São Paulo, segunda-feira, 21 de outubro de 1996
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Exército pode retirar garimpeiros no PA

DANIELA FALCÃO; RUI NOGUEIRA
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

Os governos federal e do Pará começam a preparar hoje, em Belém e Marabá, um plano de retirada dos cerca de 2.000 garimpeiros que permanecem ilegalmente em Serra Pelada (sul do Pará). O 23º batalhão de Infantaria da Selva, do Exército, pode ser usado para retirar os garimpeiros.
Na semana passada, eles voltaram a impedir o funcionamento das 13 sondas de pesquisa da CVRD (Companhia Vale do Rio Doce) instaladas em Serra Leste, a 2 km da cava de Serra Pelada.
A Vale do Rio Doce tem o direito legal de explorar as minas de Serra Leste, descobertas no início do ano. A companhia pretende fazer investimentos de US$ 250 milhões em três anos para extrair até 150 toneladas de ouro.
Os garimpeiros querem ser indenizados pela Vale porque, no início da década de 80, receberam direito temporário para explorar a jazida de Serra Pelada.
Por determinação do presidente Fernando Henrique Cardoso, seguem hoje para Belém os ministros Nelson Jobim (Justiça), Alberto Cardoso (Casa Militar) e o diretor-geral da Polícia Federal, Vicente Chelotti.
O governo teme que a manutenção dos garimpeiros nas terras da CVRD resulte em confronto violento com os seguranças da mina. O garimpo fica próximo a Curionópolis.
Um relatório da PF, que monitora a região desde a morte dos 19 sem-terra em abril passado, diz que as lideranças dos garimpeiros estão radicalizando nas ações contra a Vale do Rio Doce e têm usado cada vez mais o recurso de paralisar as sondas.
A primeira tomada das sondas da Vale pelos garimpeiros ocorreu em 23 de abril, dias depois do massacre dos sem-terra. Desde então, os garimpeiros vêm se tornando mais radicais, já tendo inclusive sequestrado funcionários da Vale, para forçar a estatal a negociar.
O general Alberto Cardoso disse ontem à Folha que "os líderes são entre 30 e 40 pessoas" e que "o total de garimpeiros oscila, dependendo das condições de sobrevivência, entre 1.500 e 2.000".
Jobim, Cardoso e Chelotti vão se reunir com procuradores, o juiz de Eldorado do Carajás, o juiz Federal da região e o governador do Pará, Almir Gabriel (PSDB).
Ontem, Jobim discutiu com o presidente a situação na região.
O ministro passou o dia com FHC na fazenda Córrego da Ponte, do presidente, em Buritis (MG). Eles viajaram pela manhã, de helicóptero. A Folha apurou que há orientação de preparar a retirada imediata dos garimpeiros se, depois das reuniões de hoje, no Pará, ficar constatado que a segurança na região está fora de controle.
O governo teme ser responsabilizado, em caso de conflito violento e morte, pela manutenção de uma situação ilegal que já deveria ter resolvido.
(DANIELA FALCÃO e RUI NOGUEIRA)

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