São Paulo, segunda-feira, 21 de outubro de 1996
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Humanos passam um dia em jaula

VALMIR DENARDIN
DA AGÊNCIA FOLHA, EM SOROCABA

A principal atração de ontem do zoológico municipal Quinzinho de Barros, de Sorocaba (a 87 km de SP), foi um grupo de seres humanos.
Durante sete horas, dois adultos e três crianças permaneceram fechados em uma das jaulas do parque, expostos ao público.
A jaula foi a mais visitada do dia no zôo. Segundo a direção, o parque recebeu 7.000 visitantes.
Entre as 10h e as 17h, um casal de biólogos que trabalha no local e três crianças, com idades entre 4 e 12 anos, filhos de funcionários, ficaram em um local com cerca de 50 m², equivalente a um apartamento de um quarto.
O recinto fica na ala dos primatas e, até agosto, era habitado por um babuíno sagrado, uma espécie de macaco de origem africana. O animal foi transferido para outro parque para reprodução.
Para abrigar os humanos, a jaula recebeu móveis e equipamentos modernos, como TV, geladeira, aparelho de som, computador e telefone celular.
"Reproduzimos os ambientes de uma casa para que o visitante pudesse observar o homem em seu habitat natural", explicou o veterinário Rodrigo Hidalgo Teixeira, diretor do zoológico.
Segundo ele, o objetivo principal da experiência era educar o público. "Queríamos ver se, vendo o bicho homem enjaulado, o visitante também vai jogar nele pedras, paus e alimentos, como faz com os outros animais", afirmou.
"Pretendemos mostrar que o homem deve respeitar a espécie dele e também as outras espécies", disse a bióloga Maria Cornélia Mergulhão, 33, que participou da experiência.
A reação da maioria dos visitantes ao ver a jaula de humanos variou entre a curiosidade, o espanto e a aprovação. "É bom para a gente não esquecer que também é um animal", afirmou o analista de sistemas Luis Augusto Barbieri, 35, que estava com a mulher e as duas filhas.
Para a estudante Marília Rezende, 11, a experiência foi instrutiva. "A gente aprende a não maltratar os animais."
O menino Tiago Augusto Trindade, 8, não gostou. "Prefiro ver os outros bichos. Quem fica em jaula é bicho e ladrão."
O casal de biólogos que ficou na jaula explicou os objetivos da iniciativa aos visitantes.

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