São Paulo, segunda-feira, 21 de outubro de 1996
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A turma do depende

VALDO CRUZ

Brasília - O telefone celular do deputado toca durante o almoço no Congresso. Do outro lado da linha, um pesquisador do Datafolha quer saber a sua opinião sobre a emenda da reeleição.
Como resposta, o deputado solta um "depende". "Depende do quê?", questiona o pesquisador.
Aí, vem um discurso. Depende de uma reforma política, tem que ser aprovado o voto distrital misto etc.
Na segunda pergunta, se o presidente Fernando Henrique Cardoso tem direito à reeleição, o deputado continua no "depende, ainda não me defini". Visivelmente incomodado, o parlamentar suspira aliviado quando desliga o telefone. E, sem rodeios, solta o seguinte comentário:
"Puxa vida, eu estava me escondendo desse pessoal. Eu não queria responder a essa pesquisa. Era melhor que eles colocassem lá 'não foi encontrado'. Não era hora para isso."
A reação do deputado é apenas uma mostra de um grupo dentro do Congresso que, por enquanto, prefere fazer o jogo do esconde-esconde.
Esse grupo pode ser dividido em duas turmas. Uma que lidera um grande número de parlamentares e prefere não anunciar o seu voto para evitar rachas entre seus aliados. É um grupo pequeno, formado pelos líderes partidários.
A outra turma, enorme, vai se "decidir" apenas na última hora. Esse pessoal, na verdade, quer é barganhar o seu voto em troca de favores. Então, nada melhor do que se dizer indefinido. Na hora final, um carguinho aqui, uma verbinha ali. E, num passe de mágica, o deputado define um votinho lá.
Segundo a pesquisa Datafolha publicada ontem, pelo menos 72 parlamentares podem integrar esse bloco. Sem falar numa (boa) parcela dos 162 que são a favor da reeleição, mas não para o presidente FHC.
Por mais que o Planalto negue, a reeleição será usada como um verdadeiro balcão de negócios.

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