São Paulo, terça-feira, 22 de outubro de 1996
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A máquina e o preconceito

CLÓVIS ROSSI

São Paulo - Não acho que o tema reeleição seja relevante. Há uns 40 outros mais importantes. Mas, em todo caso, já que virou moda, que venha. Não parece haver maneira mais democrática de se julgar uma dada administração do que permitindo que o eleitorado decida se quer esticar o mandato do titular ou interrompê-lo.
Já no caso da reeleição de Fernando Henrique Cardoso, é sempre perigoso brincar de mexer nas regras do jogo no intervalo. Mas não é o caso, acho, de arrancar os cabelos se a mudança valer já para o atual presidente. De todo modo, para continuar na Presidência, ele terá que passar pelo teste das urnas.
Em qualquer caso (reeleição já ou depois), vai haver um cavalo de batalha em torno do chamado "uso da máquina". É mais uma daquelas discussões estéreis de que o brasileiro parece gostar tanto.
Se uso da máquina fosse, de fato, decisivo em eleição, a Arena ainda hoje seria o maior partido do Ocidente, talvez de todo o sistema solar. Tinha a máquina federal, todas as estaduais e a maior parte das municipais. Não obstante, virou farinha.
A máquina só elege alguém quando ele (ou o seu patrono) está nas graças do público. Exemplos recentes de São Paulo: Orestes Quércia usou a máquina para eleger Luiz Antônio Fleury Filho. Funcionou. Mas porque Quércia estava com uns 50% de "ótimo/bom" na opinião do eleitorado, conforme o Datafolha da época.
Já Fleury bem que tentou, mas seu candidato, Barros Munhoz, nem chegou perto do segundo turno.
No fundo, a tese do uso da máquina esconde o raciocínio (comum à esquerda e à direita, embora jamais explicitado) de que brasileiro não sabe votar. Por isso, trata-se de cercar o voto de mil e uma regulamentações, para que o pobre diabo do eleitor não seja "enganado".
Talvez ele se enganasse menos se houvesse menos regulamentos para protegê-lo.

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