São Paulo, terça-feira, 22 de outubro de 1996
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O JAPÃO QUE DIZ NÃO

Em 1989, Akio Morita, o lendário criador da Sony, escreveu com o político conservador Shintaro Ishihara o livro "O Japão que Pode Dizer Não". Eram tempos de afirmação de uma suposta superioridade econômica japonesa, e a dupla pedia uma ruptura cultural entre os japoneses, reconhecidamente polidos e em geral adeptos da não-confrontação.
O livro conclamava os japoneses a uma atitude mais agressiva, à altura de um papel econômico cada vez mais proeminente na economia globalizada. Entretanto, as eleições gerais realizadas no último domingo no Japão mostram que, se os japoneses resolveram dizer não a alguém, deram prioridade aos próprios japoneses que ocupam posições de liderança na política e no governo.
Embora o PLD (Partido Liberal Democrático) tenha conseguido vencer as eleições, não atingiu a maioria perdida em 1993 pela primeira vez desde o fim da Segunda Guerra. Os comunistas obtiveram um avanço expressivo, e o novo governo deverá buscar uma nova composição com outros partidos. E o índice de abstenção foi recorde, outro sinal de que os japoneses estão exaustos dos políticos, como aliás ocorre em outras democracias, ocidentais inclusive.
Nos últimos anos, a sociedade japonesa foi traumatizada por uma crise econômica sem precedentes na era moderna, à qual se somaram episódios igualmente terríveis, como o terremoto de Kobe e os ataques terroristas de fundamentalistas religiosos. Mais recentemente, centenas de crianças foram vítimas de uma assustadora intoxicação alimentar.
Pode-se dizer que nesses vários casos, na economia, no desastre natural ou no neoterrorismo urbano, as autoridades e a burocracia deram amplas demonstrações de incompetência e lentidão operacional.
O resultado aparece nas urnas e na atitude dos que nem sequer votam. Há quem acredite na gradual elaboração de um novo consenso na sociedade japonesa. Mas, por enquanto, os japoneses preferem dizer não.

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