São Paulo, quinta-feira, 24 de outubro de 1996
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

Obra mistura poesia e teatro

CHARLES BORGES CASEMIRO
ESPECIAL PARA A FOLHA

Sem dúvida nenhuma "Morte e Vida Severina", de João Cabral de Melo Neto, é o poema mais conhecido do grande público.
Talvez isso ocorra por causa de sua natureza híbrida: a poesia mesclada ao teatro -que aproxima a forma dos autos de Natal à forma da poesia narrativa popular, ambas de origem medieval.
"Morte e Vida Severina" é, por outro lado, um poema narrativo da tradição popular medieval.
Essa tradição se desenvolveu de modo semelhante na região nordestina, sob a forma do romance de cordel.
Muitas vezes o cordel -fala cantada, recheada de jogos sonoros e ritmos exuberantes- se aproxima do poema, da forma das ladainhas religiosas e das cantigas populares nordestinas.
Estamos diante de um poema dramático que fixa um retrato da vida e da morte no Nordeste, a partir do olhar e do fluxo verbal de Severino, em seus monólogos ou diálogos que seguem, desde o Agreste até Recife, recolhendo ao longo das margens do rio Capibaribe a "paisagem" (geográfica, humana, objetos, fatos, folclore etc.) que cerca o homem pobre e miserável.
O ritmo dessa vida o conduz inexoravelmente para a morte, que marca cada imagem da vida ali vivida e cada imagem da vida ali imaginada pela poesia.
Somente o nascimento de um menino -filho do mestre José Carpina- parece construir uma resistência contra esse fluxo "normal" do rio da vida severina.

Texto Anterior: Escolas preferem testes
Próximo Texto: Geisel foi ditador da abertura democrática
Índice


Clique aqui para deixar comentários e sugestões para o ombudsman.


Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.