São Paulo, quinta-feira, 24 de outubro de 1996
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Geisel foi ditador da abertura democrática

MARIA ODETTE S. BRANCATELLI
ESPECIAL PARA A FOLHA

A morte do general Ernesto Geisel, mês passado, nos remete a um período recente da história brasileira: os governos militares (1964-85).
Filho de alemães luteranos, fez carreira no Exército e participou de importantes momentos políticos desde os anos 20. Governou o país de 1974 a 79.
Sua indicação para suceder o general Médici representou uma vitória do grupo moderado que prevaleceu no início dos governos militares.
"Autoritário, personalista, duro, alemão demais", Geisel ficou conhecido como o presidente da abertura política. Combinou o processo de "distensão lenta, gradual e segura" com medidas autoritárias.
Em 1976, o comandante do 2º Exército foi destituído após as mortes do jornalista Wladimir Herzog e do operário Manuel Fiel Filho em dependências militares. No ano seguinte, exonerou o ministro do Exército, que discordava da abertura.
Por outro lado, com a Lei Falcão (1976) e o Pacote de Abril (1977) -este decretado após o fechamento do Congresso-, Geisel tentou manter a hegemonia do partido governista, a Arena, face ao crescimento da oposição, o MDB, nas eleições de 1974.
Na economia, o país viveu sob crise, provocada pelos limites do "milagre" da era Médici e pela conjuntura internacional. O 2º Plano Nacional de Desenvolvimento procurou substituir as importações e acelerar as exportações, mas causou endividamento externo e inflação.
O Brasil buscou novos parceiros comerciais e fez o acordo nuclear com a Alemanha. Na economia, o setor estatal cresceu em demasia.
Apesar dos controles institucionais, vários setores fizeram oposição ao governo, liderando protestos em favor da redemocratização. As greves operárias, mesmo proibidas, voltaram em 1978, diante do arrocho salarial e do aumento do custo de vida.
Em 31/12/78, Geisel extinguiu o AI-5, que durante dez anos cassara parlamentares, censurara a cultura e punira cidadãos.
Submetida ao controle do governo e repleta de ambiguidades, a abertura foi, apesar de tudo, um passo importante para a "democracia relativa". Geisel entrou para a história como o "ditador da abertura".

Maria Odette Simão Brancatelli é professora de história do Colégio Bandeirantes.

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