São Paulo, quinta-feira, 24 de outubro de 1996
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BLACK NENEH CHERRY

PEDRO ALEXANDRE SANCHES
DA REDAÇÃO

BLACK
NENEH CHERRY
Neneh Cherry, 32, chega àquela hora em que quase todo mundo deixa de gostar de um artista: a do terceiro disco. "Man" já está nas lojas brasileiras.
No caso de Neneh, há um agravante: Neneh não tem pressa em gravar. Tem lançado discos de quatro em quatro anos e, talvez por isso, parece perder fãs a cada intervalo.
No caso de "Man", há complicador mais sério: é um disco preguiçoso. Das 11 faixas, três são recauchutagens, que os fãs muito fãs já devem ter catado por aí.
Veja: "Seven Seconds", dueto com Youssou N'Dour, é do CD de 1994 do africano. Tocou até cansar em rádios e MTVs do mundo.
O standard soul "Trouble Man" -a faixa mais impressionante de "Man"- fez parte de disco-tributo a Marvin Gaye, de 1995.
Por fim, a elegante "Together Now", com Tricky (ex-Massive Attack), encontra-se, igualzinha, no novo CD do artista.
Pela demora de quatro anos, esperava-se mais de Neneh -ela é, provavelmente, a mais inventiva cantora negra surgida nos anos 80.
Sueca de nascimento, nova-iorquina/londrina de crescimento e hoje espanhola por opção, Neneh participou da cena punk de Nova York no início da década passada.
Depois, explodiu com a bomba dance "Buffalo Stance" (do disco "Raw like Sushi", 88), produzida pelo então prestigiado Tim Simenon (do Bomb the Bass), que provou que dance music e sofisticação eram perfeitamente compatíveis.
À mesma época, passou a apadrinhar uma confraria oriunda de Bristol (Inglaterra), que viria a originar bandas como Massive Attack e Portishead, futuros darlings da crítica e da comunidade musical.
Neneh não demorou a embarcar na canoa dos afilhados. No segundo disco, "Homebrew" (92), abdicou da fúria dance e ficou delicada, melancólica -e ainda genial.
Agora, chega definitivamente aos domínios do Massive Attack, carregando nas tintas da sofisticação para inglês ver. "Man" é pesado, repleto de letras amargas e sexualizadas e melodias despreocupadas com o pop dançante.
Bem, Neneh conserva a classe que lhe é peculiar -tome-se, por exemplo, o pulso quente de "Kootchi", a animalidade amistosa de "Bestiality" ou os miados sensuais de "Together Now".
É o terceiro disco. E é admirável. Mas antes houve "Buffalo Stance". E, admitamos, ela podia ser menos preguiçosa.

Disco: Man
Artista: Neneh Cherry
Lançamento: Virgin
Preço: R$ 18, em média

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